
Raul Teixeira (Raul): O carma coletivo se caracteriza por uma intencionalidade coletiva na realização de determinados fenômenos. Quando uma coletividade adota preconceitos raciais, preconceitos étnicos, aplaude determinadas posturas criminosas dos seus governantes, dá ensejo e exige leis que privilegiam o mal, esta sociedade fica co-responsabilizada. No Brasil, temos muitos débitos e carmas negativos decorrentes de ações individuais embora tenha repercutido sobre a comunidade, mas ainda foram ações de indivíduos impostas à massa. Mesmo que haja um ditador, uma criatura do mal na comunidade, não se pode dizer que o carma, que o débito é da comunidade, mas deste indivíduo que o provocou. Só passa a ser um carma coletivo quando a coletividade de uma maneira ou de outra aplaude, chancela ou exige este tipo de programa.
Raul: Pelo critério kardequiano não, porque Kardec adota que as verdades devem ser universais. Não existe uma verdade individual. Eu não tenho a minha verdade em detrimento da verdade verdadeira. Por isso é que se eu tiver uma intenção que me leve a um caminho desastroso tenho a vivência dos outros, a relação coletiva para me dizer que estou na contra mão. De modo que, mesmo se eu, por minha intuição, seguir um caminho equivocado, terei a observação dos outros a minha volta. Jamais alguém caminha pelo mundo sem ouvir conselhos, recomendações, todos nós ouvimos variados conselhos, as mais diversas vozes, e optamos. Por mais que a intuição de uma pessoa possa não induzi-la bem, ela tem a referência das demais criaturas da comunidade. Por isso é que o ser humano é um animal social no dizer de Aristóteles.
Raul: Não podemos confundir a omissão com a discrição. Quando Jesus Cristo propôs que fizéssemos o bem sem ostentação, que a mão direita desse sem que a esquerda visse, não era deixar de fazer, era fazer sem exibicionismo. Agora, quando alguém se omite, deixa de fazer. A resposta que os espíritos deram a Allan Kardec à pergunta 932 de O Livro dos Espíritos é aquela em que ele indaga: por que é que o mal se desenvolve tanto, se mostra tão soez sobre a Terra em prejuízo e detrimento do bem? Os imortais respondem: por culpa dos bons. Porque os bons são tímidos, o tímido não faz, tem medo. Os maus são ousados e intrigantes, eis a resposta. De modo que não existe relação entre uma coisa e outra. O mal se propaga porque os bons não fazem, não agem, são tímidos, se escondem, são omissos, esta é a relação. Um caso é você fazer e ser discreto, outra coisa é você não fazer e deixar que o mal tome conta. O mal só se alastra onde o bem não ocupou.
Raul: A questão é que Jesus sempre disse que viera para cumprir a vontade de Deus. Na medida em que o espírito vai evoluindo a sua vontade vai se ajustando cada vez mais à vontade do Criador. Nada obstante, temos a nossa individualidade. Os espíritos superiores não são iguais, são similares, porque estão todos olhando para o mesmo fanal que é o Criador. Estão todos se dirigindo para o mesmo pólo que é Deus. No entanto, cada qual escolhe a sua trilha. Um anjo escolhe servir a humanidade, outro escolhe servir o reino vegetal, outro quer servir o reino mineral, e por aí afora. Uns querem lidar com os espíritos na faixa infantil da humanidade, outros se ocupam dos espíritos saindo do corpo na velhice, então todos os espíritos estão buscando o bem, se dirigindo a Deus, mas por estradas próprias. Cada qual mantém a sua sensibilidade. Não são todos os anjos que têm sensibilidades para as mesmas coisas e queiram fazer as mesmas coisas, embora possam. Você pode cantar, dançar e tudo mais, mas escolhe escrever. O fato de Jesus ter pedido a Deus para que se fizesse a vontade superior é porque por mais que um espírito seja avançado, a vontade do Pai Celeste ainda será mais perfeita que a sua, porque a perfeição absoluta está em Deus.
Raul: Qualquer que seja o grau de minha evolução quero sempre o melhor para mim. Mesmo nos reinos inferiores, os animais querem a caça maior para si, querem a toca maior para si, querem a fêmea melhor para si, no caso dos machos. Cada ser humano tem uma percepção diferente da felicidade, o que ele quer para si é sempre o melhor. Para um a felicidade é a caça, para outro é a pesca, para outro é dormir, mas quero sempre o melhor para mim. É neste sentido que devo desejar para os outros.
Raul: O espírito Emmanuel nos diz no seu livro O Consolador que chegará o dia em que as leis humanas se enquadrarão item por item às leis divinas. Chegará, ainda não chegou. Vemos que as leis humanas, por melhores que sejam, ainda retratam a inferioridade e as limitações do ser humano. O casamento entre pessoas do mesmo sexo não é a coisa mais grave, a coisa mais grave são os crimes que são cometidos por pessoas de sexos diferentes. Se estivermos vendo como um crime duas pessoas que se amam, ainda que de mesma morfologia, viverem juntas e fazerem o bem, o que é que vamos pensar das que estupram, dos pedófilos, dos que furtam o erário, os que mantêm o povo na pobreza para que eles e sua família enriqueçam? Então não podemos querer coar mosquitos e deixar se engolir elefantes. Temos que ver que as leis humanas carregam imperfeições, mas quando surge uma lei de formalização quanto ao casamento entre homossexuais é para evitar problemas mais graves, da ilicitude. Porque eles vão caminhar juntos, com casamento formal ou sem casamento formal. Desta forma, estamos diante do mesmo problema das leis do divórcio. Não é a lei que separa a pessoa, é a pessoa que já está separada e busca a lei para formalizar a separação socialmente. No caso desses casamentos entre homossexuais a lei apenas formaliza aquilo que eles já estão fazendo, eles já estão vivendo juntos. Como ainda temos uma sociedade que prima pela hipocrisia, pensamos que a verdade só existe a partir do momento em que ela foi escrita no papel, quando isto não é verdade. Temos que educar rapazes e moças para o respeito a si mesmos, ao seu corpo, às relações humanas. Em relação à legislação, nenhuma delas é perfeita na Terra, todas terão aquilo que hoje encontramos e chamamos de brechas da lei. Todas as leis são feitas deixando brechas para que quando quisermos deturpá-las a brecha permita. Logo, o legislador é um ser humano com as suas fragilidades, com a sua humanidade, e obviamente não será a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo o ponto grave que mereça maior atenção da sociedade.
Raul: A princípio não. Porque a grande massa de homossexuais que existe na sociedade é filha de casais heterossexuais. E por que ficaram homossexuais? De repente poderíamos concluir que são casais heterossexuais que fazem filhos homossexuais. E até hoje não temos nenhuma notícia dentre os casais homossexuais que criaram filhos que tenham se tornado igualmente homossexuais. Particularmente conheço vários rapazes, hoje pais de família, que foram criados por suas tias homossexuais, que viviam com elas e com outras pessoas, na maior discrição, e se tornaram homens de bem, médicos, engenheiros. Só souberam que as tias eram homossexuais quando eles cresceram e elas os chamaram para dizer. Eles nunca presenciaram nenhum ato menos lógico e lúcido dentro de casa, nunca presenciaram qualquer desrespeito, nunca viram estas tias tocarem nas mãos uma das outras. Eles chamavam uma de tia verdadeira e a outra era a companheira. Então, isto nos leva a verificar que muitas vezes a sociedade estereotipa determinados comportamentos. Vemos casais homossexuais, porque eu lido com muita gente, de uma respeitabilidade social incrível. Como vemos casais heterossexuais de um desrespeito brutal. Eles brigam, eles se agridem, eles batem, o marido passa com outra mulher na frente da esposa, a mulher passa com outro homem na frente do marido, e os casais homossexuais têm demonstrado uma maior autenticidade no bem querer. Não estamos defendendo e nem acusando homossexuais, estamos constatando o que se vê no mundo. De modo que os bons espíritos nos dizem que como o amor não tem sexo, melhor será uma criança ser amparada por um casal homossexual do que viver nas ruas, aprendendo o que as ruas têm para ensinar, que é sempre o pior. Naturalmente, vivendo numa sociedade cristã hipócrita, as pessoas falam contra a adoção por homossexuais, mas não se predispõem a adotar. Temos que verificar que Deus não está observando qual é o direcionamento que estamos dando a nossa libido, Ele está acompanhando o amor que nós temos.
Raul: Assumir a ação do Evangelho. E a ação do Evangelho é a ação do amor. Aprendemos com Paulo de Tarso que quando o amor se torna dinâmico, quando o amor deixa de ser uma virtude paralisada e estagnada, ele se torna caridade. A caridade é o amor dinâmico, fora do qual não existe salvação. Dirijo aos meus irmãos internautas, para que não permitam que o Evangelho remanesça acomodado nas consciências, mas que vaze através de suas mãos, repercuta através de suas vozes e caminhe mundo afora através de seus pés.