Entrevista: Simão Pedro de Lima




O Livro dos Espíritos – Base da Trajetória Educativa do Espírito


Durante o IV Congresso Espírita Mineiro, Simão Pedro de Lima abordou o tema: O Livro dos Espíritos - Base da Trajetória Educativa do Espírito. O expositor apresentou o tema de forma muito clara e concisa, mostrando-nos que realmente O Livro dos Espíritos é a base que encontramos para a educação do nosso espírito. “Ainda não somos seres perfeitos, mas trazemos conosco a essência divina. Portanto, podemos ser perfeitos. A escolha é de cada um de nós”. – disse ele.

Há mais de vinte anos, Simão Pedro milita na seara espírita. Começou na região do Triângulo Mineiro fazendo palestras e hoje conhece uma boa área do Movimento Espírita no Brasil. Independentemente do tempo”disse ele“o que me deixa feliz é poder através deste trabalho, no Movimento Espírita, conhecer pessoas, fazer amizades e aprender muito com elas. Nesse tempo que estou no Movimento Espírita muito aprendizado me foi proporcionado pelas pessoas que nele atuam”.

Atualmente, Simão Pedro de Lima está na coordenação dos Departamentos de Educação Doutrinária e de Orientação para Assuntos da Mediunidade na Casa Espírita que freqüenta, a Casa do Caminho, na cidade de Patrocínio (MG). No Movimento Espírita, a convite dos confrades, participa de congressos, seminários, simpósios, visitando algumas Casas Espíritas para ministrar palestras.

Ao ser procurado, concedeu-nos esta entrevista que ora publicamos. Desejamos ao nosso leitor uma ótima leitura e que possam deleitar-se nestes ensinamentos.


Wellerson Santos (Wellerson): A Doutrina Espírita completou 151 anos, portanto é uma doutrina recente. Por que então O Livro dos Espíritos, que foi lançado a 18 de abril de 1857, pode ser considerado a base da trajetória evolutiva do Espírito?

Simão Pedro de Lima (Simão): Porque nele estão contidos os ensinamentos dos Espíritos, eles mesmos, os Espíritos, disseram isso nesta obra, no Prolegômenos. E é a base por quê? Uma vez trazendo os ensinamentos, uma vez contendo o nosso roteiro de vida, ele se transforma em um elemento basilar. Nele buscamos o que precisamos para a nossa existência, para as nossas ações. Diria que podemos buscar nele toda a fundamentação teórica para as nossas ações práticas e por isso ele é uma base. Se temos dúvidas recorremos ao Livro dos Espíritos e naquelas perguntas e respostas achamos referência para as tomadas de decisão que quisermos. Não as decisões do campo pessoal, mas no campo da trajetória evolutiva. Em O Livro dos Espíritos temos, claramente explicado, a nossa origem, o nosso destino, o porque estamos na Terra, o porque convivemos com as pessoas, o porque encarnamos, como se dá a relação entre os mundos, o que é a evolução. Então, ali, temos todos estes elementos, esse ferramental. Se olharmos a base kardequiana, além de O Livro dos Espíritos, ou seja, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese, veremos que eles estão intimamente ligados ao Livro dos Espíritos, são um desdobramento dos assuntos nele tratados. O Livro dos Espíritos tem 151 anos, mas as pessoas quando o lêem normalmente dizem o que? Dizem: “Engraçado, eu também penso assim. Eu aceito bem essa resposta. Eu também imaginava assim. Olha, essa pergunta, essa dúvida, eu também tenho”. Por que isso acontece? Porque são questões existenciais e todos nós necessitamos daquelas respostas e, num momento ou noutro, temos aquelas dúvidas. E isto também nos mostra o quanto O Livro dos Espíritos é atual e, por conseguinte, é basilar.


Wellerson: Na Atualidade temos ouvido falar com grande ênfase a respeito das crianças da Nova Era. O senhor acredita que a Doutrina Espírita está preparada para receber e educar convenientemente estas crianças através de suas obras?

Simão: A Doutrina Espírita sim, mas os espíritas eu não saberia dizer. O senhor Allan Kardec tratou desse assunto na última questão de O Livro dos Espíritos, a questão 1019 e tratou também desse assunto no último capítulo do livro A Gênese - Nova Era. Neste capítulo ele trata destas questões e dá o indicativo do que seria essa nova geração. Ela seria reconhecida pela espiritualização cada vez mais cedo e pela inteligência precoce. Temos na pedagogia, não diria propriamente a pedagogia espírita, mas a visão espírita da pedagogia, elementos para lidar com isso. O ponto fundamental é a consciência por parte dos educadores de que se está lidando com crianças, jovens ou adultos, mas que são Espíritos antigos e, obviamente, imortais. Então quando se fala em educação, se fala numa educação do Espírito, que quando encarnado e na fase da infância, em função de limitações digamos físicas desta fase, precisa de métodos apropriados de tradução dessa verdade para a realidade infantil. Então a educação espírita se faz com essa visão, uma educação focada na imortalidade da alma. Não estamos educando crianças para uma vida material somente, mas deixando claro que a vida material é uma parte do processo da vida plena, da vida do espírito. É importante que atentemo-nos, também, para os modismos, que vez por outra permeia o Movimento Espírita, alguns desses modismos ligados a essa questão das crianças da nova geração. Temos que ter um certo cuidado, porque muitas vezes movidos pela euforia, pelo entusiasmo, digamos momentâneo, acabamos por embarcar em teorias que se analisadas com mais profundidade veremos que chocam com o próprio pensamento espírita. O Espiritismo tem ferramental para lidar com essa Nova Geração que todo dia chega na Terra? Tem sim, mas nós espíritas precisamos estar dispostos a entender isso.


Wellerson: Tudo na vida evolui, é uma lei da natureza. O senhor acredita que O Livro dos Espíritos, obra basilar do Espiritismo, ficará com o passar do tempo ultrapassada e precisará de atualizações? Por que?

Simão Pedro: Interessante a pergunta. Quando lidamos com elementos circunstanciais, a obra que trata da circunstância muda, porque as circunstâncias mudam, mas quando se trata da essência e natureza, a essência não muda. Ou seja, por mais que nos tornemos melhores somos sempre Espíritos, por mais que cresçamos, Deus é a inteligência suprema, por mais que, digamos, “nós melhoramos”, o processo encarnatório continuará acontecendo em outros níveis e em outros mundos. O Livro dos Espíritos não trata de assuntos circunstanciais, trata da episteme, ou seja, da base do conhecimento. Então, o que temos em O Livro dos Espíritos é a base epistemológica da Doutrina Espírita. Por analogia, podemos fazer a seguinte comparação: o código de leis contido nos dois livros do pentateuco mosaico, no Levítico e no Deuteronômio, quando comparado com o Decálogo, contido também na obra mosaica, no capítulo vinte do livro Êxodo. Se observarmos as leis mosaicas, elas tinham grande valor para a época, mas a sociedade e a cultura mudaram e elas foram caindo em desuso, mas o Decálogo continua, por quê? Porque ele não trata de legislação circunstancial, mas sim do elemento existencial. Observemos, matar alguém nunca será bom, pode até a Legislação em alguns países estabelecer a pena de morte, ela até pode ser legal, mas não é boa, não é justa. Por isso o Decálogo não cai em desuso: honrar o pai, honrar a mãe, ou seja, a origem, o respeito humano isso não cai em desuso. Da mesma forma ocorre com o Livro dos Espíritos. Ele não trata dos elementos circunstanciais, pois o que for circunstancial vai evoluir. O senhor Allan Kardec foi claro nisso quando no livro A Gênese fala do caráter evolutivo da Doutrina Espírita, ele diz que o Espiritismo anda lado a lado com o progresso e, por isso, ele jamais será ultrapassado, pois se estiver errado em um ponto ele se modifica neste ponto, se uma verdade maior surgir, ele a acolhe. Mudar-se-á, se necessário o elemento circunstancial, mas não no elemento estrutural, porque a estrutura da Doutrina Espírita e, por conseguinte, do Livro dos Espíritos, está focada onde? Na lei e justiça de Deus e essas são imutáveis, como o próprio Deus também o é.


Wellerson: Existem entre os espíritas grandes dissensões no que diz respeito a identidade do Espírito de Verdade. Por diversas vezes, através de vários médiuns, Kardec recebeu suas comunicações. O Espírito de Verdade seria uma plêiade de espíritos ou o próprio Cristo? Qual é a opinião do senhor sobre isto?

Simão Pedro: É uma pergunta também interessante. Você tem as duas linhas de pensamento e os defensores dessas linhas buscam se fundamentarem. Há os que entendem o Espírito de Verdade como sendo o nominativo ou um qualificativo de uma plêiade de Espíritos que se utiliza do nome Espírito de Verdade, já que são Espíritos superiores e que com esse nome trazem as informações, as orientações. Os defensores dessa idéia valem-se das diferenças de estilos nas comunicações, que são “assinadas” com o mesmo nome: O Espírito de Verdade. São comunicações bem embasadas e doutrinariamente coerentes, mas com diferenças de estilos. Há, por outro lado, os que entendem ser o Espírito de Verdade o próprio Jesus. Fundamentam-se em uma comunicação contida no Livro dos Médiuns, cuja autoria, segundo o senhor Allan Kardec era de Jesus. No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo seis, há a mesma comunicação, porém assinada pelo Espírito de Verdade. São duas correntes de pensamento que, de certa forma, se fundamentam, mas não vejo propósito em transformar isso em matéria de discussão, pois em nada alteraria os ensinamentos trazidos pelo Espírito de Verdade. Kardec asseverou que o nome que assina uma mensagem, não é o mais importante, mas sim a mensagem que é trazida, essa tem importância maior. Você pergunta minha opinião. Para mim o que vale é o conteúdo das mensagens. Se Jesus é o Espírito de Verdade, ou valeu-se desse nome, sinceramente, não vejo relevância em discutir isso.


Wellerson: Qual é a mensagem que o senhor deixa para os internautas?

Simão: Diria que ampliemos, se possível, a leitura das obras kardequianas. Sem nenhum demérito a outras obras, é importante que tenhamos as obras básicas bem compreendidas, pois são o fundamento para as obras, ditas, subsidiárias. Compreendendo o conteúdo das obras básicas, teremos melhores condições de discernir o conteúdo das demais obras e, com maior tranqüilidade, pautar nossas leituras dentro do princípio da coerência doutrinária.


Paz e Alegria aos nossos corações!


Wellerson Santos


(Entrevista publicada pelo jornal Evangelho e Ação - Órgão de Divulgação da Fraternidade Espírita Irmão Glacus - Foto: Edson Flávio).



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