O Estudo Minucioso do Evangelho e sua Essência Renovadora
Durante o IV Congresso Espírita Mineiro, Magda Luzimar Abreu, da União Espírita Mineira (UEM), abordou o tema: O Estudo Minucioso do Evangelho e sua Essência Renovadora. “O objetivo do Cristo com o Evangelho, é proporcionar a aproximação das pessoas com os outros, para que todos se tornem verdadeiros irmãos, já que todos são filhos do mesmo Pai” – esclareceu a expositora.
Magda Luzimar de Abreu é espírita de berço. Sua família, fundou o Grupo Emmanuel onde ela atuava como evangelizadora.
“Atualmente, estamos como diretora do Departamento de Estudo Minucioso do Evangelho de Jesus da União Espírita Mineira, como presidente do Grupo Espírita Emmanuel, onde temos reuniões públicas e de estudo”. – disse ela.
Wellerson Santos: Dentro da Doutrina Espírita encontramos diversos estudos a respeito dos ensinamentos do Evangelho de Jesus. Estudiosos do Movimento Espírita apontam que cada gesto, cada palavra citada no Evangelho tem um significado. Na sua opinião, há realmente significados nestes detalhes ou agindo desta forma não estaríamos dando maior complexidade aos ensinamentos do Cristo?
Magda Luzimar de Abreu: Entendemos que sim. Todos os detalhes são importantes, contanto que eles sejam trabalhados à luz da Doutrina Espírita. O estudo do Evangelho, neste enfoque detalhista e minucioso, não deve ser um estudo, no qual, tenhamos a pretensão de nos tornar especialistas bíblicos, mas sim de fazermos a nossa reforma íntima. Se buscamos detalhes é para que possamos nortear a nossa própria transformação. Como exemplo, no Sermão da Montanha, Jesus sobe ao monte, demonstrando na sua ação que Ele se destaca perante a multidão em benefício dela, mas que Ele está investido de uma autoridade, mostrando isso quando ora. Este gesto significa que precisamos nos esforçar para podermos destacar da multidão, esta já não é mais a multidão de seres, mas a de nossos erros e de nossas imperfeições. Ao mesmo tempo, Ele assenta para estar acessível à multidão e devemos assumir a mesma posição, porque de nada adianta sermos detentores de grande conhecimento e cultivarmos vaidades, nos colocando na posição de alguém que sabe mais do que o outro. Os detalhes servem para agirmos com a mesma postura do Cristo. A Doutrina Espírita é a âncora que não nos deixa sair deste foco. Quando saímos, nos tornamos especialistas bíblicos, tendo um grande discurso, mas não poderíamos dizer que estamos fazendo um estudo minucioso do Evangelho de Jesus, porque estaremos atendendo apenas a nós mesmos.
Wellerson: Em tempos remotos apenas os sacerdotes tinham acesso as Escrituras Sagradas. Na atualidade, devido à evolução do direito de livre interpretação e estudo, todos têm acesso a estes ensinamentos. A senhora acredita que exista algum risco de interpretação literal das passagens evangélicas do Cristo por parte de indivíduos que estejam fora de núcleos de estudo bem orientados? Como minimizar este problema?
Magda: Na realidade este risco existe desde que o Cristo esteve aqui. Porque após o retorno do Cristo ao Mundo Espiritual, os grupos se organizaram e alguns com a intenção de realmente entendê-lo, como os cristãos primitivos que pagaram o preço desta disposição com a própria vida. Outros, para interpretar as palavras do Cristo em benefício próprio se utilizaram Dele através de outros elementos como as Cruzadas e a Inquisição. Precisamos entender que não podemos reproduzir estes riscos dentro da Doutrina Espírita. Devemos utilizar os princípios doutrinários de fraternidade, de caridade cristã, para que não nos deixemos cair neste ponto. Individualmente corremos este risco, mesmo porque pela lei da reencarnação, sabemos que deturpamos o Evangelho no passado em interesse próprio e agora estamos tentando recuperar. Se tivermos a Doutrina Espírita como guia para as nossas deduções e a preocupação de tirarmos o espírito da letra, minimizaremos este risco. Este é um momento feliz em que a sociologia, o direito, a filosofia, a ciência, abriram campo para que o Consolador viesse nos dar a chance de rever aquilo que o Cristo nos disse há dois mil anos atrás. No livro Renúncia, Alcíone nos fala sobre a questão da comparação. Precisamos nos colocar dentro do Evangelho enxergando onde estamos e quem somos. Por exemplo, somos o leproso que aproveitou a oportunidade ou o leproso que não voltou? Somos o cego que gritou pedindo misericórdia para Jesus ou o fariseu que passou o tempo todo articulando até levá-lo a cruz? Se nos colocamos nesta posição com o intuito de nos identificarmos com os personagens bíblicos para que um novo ser surja, se conseguimos enfrentar as feras, que hoje já não estão mais nos circos, mas estão dentro de nós, neste caso, minimizaremos o risco. Na atualidade todos têm acesso ao Evangelho e não poderia ser diferente.
Wellerson: Diversas passagens evangélicas de Jesus causam questionamentos por parte de muitos cristãos que não entendem a mensagem em sua totalidade. Gostaríamos de solicitar à senhora que pudesse nos esclarecer à luz da Doutrina Espírita alguns desses ensinamentos:
a) No evangelho de Mateus, capítulo 10 versículo 34 encontramos: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”. O que entender destas palavras do Cristo?
Magda: Quando observamos, à luz da Doutrina Espírita que a Terra é uma escola de aprendizado para o espírito através das reencarnações sucessivas onde mergulhamos no corpo físico com o objetivo de nos aprimorar, e aqui travarmos as lutas íntimas, na reconciliação com aqueles aos quais ferimos, vamos notar que a mensagem do Cristo é cristalina, objetiva e oportuna. Se concebemos a Terra como oportunidade de trabalho para a luta do nosso dia a dia, entendemos, que a espada e a guerra a qual Ele se refere é a guerra que travamos intimamente. Como foi que Jesus usou da espada?Emmanuel nos afirma que a espada que Jesus usa é a espada fincada na terra, porque a cruz é uma espada, a espada que Ele nos propõe. Ele está correto, porque numa falsa condição de paz satisfazemos os nossos interesses, humilhamos, somos impacientes, não temos caridade, mas quando começamos a guerrear conosco fazendo a nossa reforma íntima, olhamos todos como irmãos. É o que Paulo diz: aprendi a combater o bom combate. As palavras de Jesus são perfeitas desde que extraiamos do texto literal a informação do espírito guiada pela Doutrina Espírita; se ficarmos no campo do achismo, isto não resolverá o problema.
Wellerson: b) Segundo o que está registrado no evangelho de Mateus, capítulo 18 versículos 21 e 22, Simão Pedro questionou: “Quantas vezes devo perdoar o meu irmão, até sete vezes?” E Jesus respondeu-lhe: “Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete”. O que poderíamos entender com estas palavras do Cristo? Como vivenciar o perdão sem tornar-se submisso?
Magda: Ao tirarmos o espírito da letra, vamos notar que Jesus vai trabalhar a disciplina em nosso favor. O perdão vai além das palavras. Alguém nos fere e dizemos com a imposição das novas propostas que estamos aprendendo dentro da Doutrina Espírita e do Evangelho: “Eu perdôo”. Mas se na realidade a mágoa persiste é preciso exercitar o perdão, consolidar a necessidade do esquecimento da falta ou da ofensa. Perdoar é liberar-se do sentimento da ofensa, e não, compactuar com o erro. Se alguém nos fere na intimidade, é lógico que temos os mecanismos de defesa psicológicos com os quais trabalhamos, mas não podemos sair desta existência para entrar no campo de batalha com o companheiro no mundo espiritual. Isto não é submissão. Porque Jesus aos olhos dos homens se submeteu aos governantes daquela época indo a cruz, mas aos olhos do espírito ele vive até hoje. A questão do perdão não é a questão da palavra perdôo, mas é a questão do sentimento com o qual nos envolvemos. Se entendermos pela Doutrina Espírita que o companheiro que nos ofende é possivelmente alguém muito magoado conosco no passado, quando o ensinamos a nos tratar-nos da forma atual, ele nos ofende hoje e nós o perdoamos. Assim, amanhã, ele aprenderá conosco. Ele pode nutrir o sentimento de angustia, de raiva para conosco, mas cada vez que este sentimento nos atinge encontra em nós uma blindagem de amor. Não é uma submissão. As leis humanas existem para definir os papéis de cada ser social, as leis divinas, acima destas, definem os papéis do espírito. Mas a questão do número, das múltiplas vezes, está ligado ao trabalho que devemos fazer na nossa intimidade para nos isentar da mágoa, porque podemos não concordar com o que o outro faz, podemos chegar e dizer: “meu amigo, eu não vou fazer, porque eu não concordo e não concordo por estas razões”. Mas qual é o tom da nossa voz ao dizer isto? É disto que estamos falando, estamos falando de mudança de postura íntima.
Wellerson: Qual é a mensagem que a senhora deixa para os nossos internautas?
Magda: Não sei se teria autoridade para deixar a minha mensagem, então gostaria de deixar a mensagem do Cristo. Que nos amemos uns aos outros porque assim seremos conhecidos. Amar é um processo de aprendizado para todos nós. E O Evangelho Segundo o Espiritismo nos fala: Espíritas - amai-vos e instrui-vos. Gostaríamos de desejar a todos os leitores que tenham muita paz, disposição de aprender e de conhecer-se. Que o estudo do evangelho possa ser abraçado, revestido dos pilares da Doutrina Espírita, abrindo nossa alma para um novo mundo, um novo horizonte de regeneração. Temos certeza de que ansiamos a paz, a felicidade, um mundo regenerado, mas não vamos chegar a ele se não contribuirmos com ele. Que Jesus possa amparar-nos na nossa disposição de entendê-Lo, mas acima de tudo de praticá-Lo. Que possamos ser felizes na nossa busca de aprender a amar.
Gostaríamos de agradecer a Magda Luzimar Abreu por seu carinho e atenção.
Que Jesus nos abençoe e nos ilumine!
Wellerson Santos