Era domingo de Carnaval, eu me lembro.
Eu havia passado o dia de forma muito feliz. Durante todo o dia estive ao lado da pessoa amada. Que alegria poder compartilhar momentos que ficam marcados em nossa mente para a eternidade!
Tudo ia muito bem, não éramos dados ao Carnaval e já havíamos combinado de ficar juntinhos todo aquele dia.
À noite caiu e percebi que a pessoa começou a ficar incomodada. Sempre saía de perto de mim e regressava sem graça, como se quisesse dizer algo e não tivesse coragem.
Até que percebi que se tratava do telefone celular. Quando esta pessoa estava comigo nunca atendia às chamadas.
Assim como quem não quer nada disse-me que precisava ir embora, era a sua família quem chamava.
Uma leve tristeza e melancolia invadiu o meu espírito e nos despedimos.
Logo que esta pessoa se foi, desliguei os meus aparelhos de telefone, deitei em minha cama e chorei amargamente. Um tormento começou a se apossar do meu ser, um desespero, sair dali, não sei para onde. Fui sendo envolvido por aquele sentimento ruim e, de repente, quando me vi, já estava à porta de casa aguardando um táxi.
Para onde eu iria? Não sei... Só não queria ficar sozinho. Tomei um táxi e me pus a dar voltas nas ruas da cidade sem eira, nem beira, entrava por ruas e ruas, quando avistei certo movimento. Era uma boate, uma casa de shows, sei lá. Apeei do carro, entrei na fila e adentrei o recinto.
O perfume exalava no ar, o cheiro do suor e da bebida se misturavam e as pessoas tresloucadas dançavam ao ritmo da música contagiante.
Pelo menos ali tinha companhia, pensava eu. Pelo menos ali tinha a presença de pessoas mesmo que desconhecidas, já que a pessoa que eu amava não podia estar comigo.
Comecei a me envolver no ritmo, mas tinha vergonha, eram pessoas desconhecidas. Até que me deu uma vontade súbita de tomar algo. Alguma bebida que me pudesse deixar mais animado. Fui ao balcão, pedi ao garçom uma bebida forte, um drink, qualquer um que me animasse. Ele sorriu. Ofereceu-me a especialidade da casa segundo ele e em pouco tempo estava super, super animado.
Do primeiro drink passei ao segundo, ao terceiro, ao quarto e ao final da noite, quase amanhecendo, chegava ao sétimo.
Não me recordo como saí da boate, hoje sim, eu sei, acompanhado, acompanhado por alguns “companheiros” que angariei com as minhas escolhas.
Naquele dia não fiquei com ninguém. Os meus pensamentos eram apenas em uma pessoa. Adentrei o táxi, pedi ao motorista para me levar a uma estrada mais próxima, fora da cidade. Ele achou estranho, mas eu estava pagando, era o seu dever. Levou-me para uma rodovia. Pedi para parar, desci do carro depois de pagar a corrida e então ele se foi.
Eu caí dentro de mim mesmo e comecei a chorar convulsivamente. À minha frente havia um despenhadeiro. Eu estava zonzo, a cabeça tumultuada, e a mente na pessoa amada. Onde estaria? Estava com as suas escolhas.
E, então, tomado de um esturpor, eu me atirei. Atirei-me no desfiladeiro e pensava tudo ter terminado.
Uma dor inenarrável, maior do que a que eu sentia invadiu o meu espírito e eu levantei do chão.
Impossível, eu estava vivo, era um milagre! Comecei a agradecer a Deus quando me vi caindo do desfiladeiro, o vento arrebentando os meus pulmões e a pancada nas rochas pontiagudas abaixo. Quando, então, fui tomado de espanto. Meu corpo estava ali, ensanguentado, quebrado e destroçado, e eu estava vivo. Não podia ser!
Eu fui tomado de desespero. Minhas mãos estavam sujas de sangue, minha boca destroçada, a cabeça doía como nunca, quando me recordei da pessoa amada.
Foi incrível! Eu fui transportado e lá estava em seu quarto. A pessoa dormia como um anjo. Eu tentei tocar, acarinhar, mas um largo abismo nos separava. Eu urrava como um animal. A dor verdadeira era aquela. O que tinha feito da minha vida? Acabei com ela em um segundo.
O meu corpo demorou para ser descoberto e eu acompanhei todo o féretro. Enterreram-me. Aliás, enterraram-me vivo, porque eu sentia tudo. O peso da terra, os vermes me devorando pouco a pouco, o meu corpo virando podridão. Quanto sofrimento!
Não sei dizer ao certo quanto tempo passou, dias, meses ou anos, até que recebi a visita de um ilustre desconhecido que me convidou para seguí-lo.
Eu fui, não o conhecia, mas era uma companhia. Me sentia sozinho. Eu fui e amparado estou.
Hoje, passado tanto tempo, continuo a sentir as sequelas do meu ato, mas como é Carnaval na Terra e sei que a história pode se repetir em algum canto ou lugar, pedi para escrever, relatar a minha história destituída de qualquer lição senão aquela mensagem do que não se deve fazer.
Obrigado aos corações amigos pela acolhida e pelas boas vibrações...
Um abraço fraternal,
J. S. C.
(Mensagem psicografada pelo médium e orador espírita Wellerson Santos no dia 06 de março de 2011)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui os seus comentários com o seu contato.
Muito obrigado!