Entrevista: Gilson Teixeira Freire




Educação dos Sentimentos: Vivência do Amor


Educação dos Sentimentos – Vivência do Amor foi o tema abordado por Gilson Teixeira Freire no IV Congresso Espírita Mineiro, que esclareceu e comoveu a todos os presentes. Gilson lembrou que o homem não é dono do que usufrui em sua existência, ou seja, que as coisas materiais são empréstimos que recebemos do Alto para podermos atuar na Terra em busca da evangelização, pois "só possuímos o imponderável, que sobrevive após a morte do corpo".


“Fui criado dentro da doutrina, em Lavras, MG, e com cerca de doze anos eu já tinha lido O Livro dos Espíritos, freqüentava estudos evangélicos de pré-mocidade e mocidade. De modo que sou imensamente grato à vida pela benção de militar na doutrina desde a mais tenra idade”disse ele.


Atualmente Gilson Freire faz parte do Grupo de Fraternidade Espírita Irmão Vitor, que fica em Belo Horizonte, MG, no bairro Padre Eustáquio. Ele trabalha ativamente na psicografia espírita desde 1980, quando iniciou nessa tarefa com orientações espirituais e mensagens, e a partir de 1997, com a psicografia de obras espíritas.


Até o presente momento Gilson Freire já psicografou duas obras notáveis: Ícaro Redimido e Tabernáculo Eterno, ambas ditadas pelo espírito Adamastor. É ainda de sua autoria o livro Arquitetura Cósmica.


Apresentamos ao caro leitor o resultado do nosso trabalho, e esperamos poder usufruir dele, tirando daí profundos esclarecimentos.





Wellerson Santos (Wellerson): O amor é o sentimento por excelência. Mas ainda é um sentimento incompreendido por muitos. Como diferenciar o amor da paixão?

Gilson Teixeira Freire (Gilson): Realmente o amor é o cimento do Universo. É o sentimento que o Criador dotou a criação na sua máxima expressão. Sem o amor não há evolução, sem o amor não se faz perfeição. A paixão, embora vista por muitos como um sentimento até certo ponto positivo, consiste numa alteração do amor verdadeiro. O amor verdadeiro não exige, o amor verdadeiro doa, a paixão, pelo contrário, exige. Além disso, a paixão impõe sofrimento e martírio. Portanto, a paixão é um amor perturbado.


Wellerson: A proposta triangular de Jesus é uma das mais belas que existe em toda a História da Humanidade: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo.” Para amarmos a Deus e ao nosso próximo é imprescindível amarmos a nós mesmos. Como identificar a linha limítrofe que existe entre o auto-amor e o egoísmo?

Gilson: Este é um assunto complexo. Somos obras divinas, cada um de nós fomos criados como Filhos de Deus, portanto somos sagrados. E como tal devemos amar a nós mesmos. O grande segredo entre o limite ao amor a si mesmo e ao outro reside na igualdade. O princípio evangélico, enunciado como a maior de todas as leis, pede-nos uma perfeita igualdade: amarmos ao outro como amamos a nós mesmos. Portanto, nos colocamos numa situação de equilíbrio perfeito. Com facilidade, amamo-nos muito mais do que ao outro, porém, muitas vezes também nos denegrimos, nos rebaixamos, nos diminuímos, como se isso fosse uma virtude evangélica. Jesus nos pediu a igualdade, onde exatamente está o equilíbrio da Lei. De fato precisamos do nosso amor próprio, o que poderíamos chamar de autocentrismo, de uma parcela de concentração de interesses em nós, ao invés de egocentrismo, deturpando-se a idéia. Necessitamos desse autocentrismo para nos construir, segundo os princípios divinos. Reconhecemos ser difícil, mas devemos nos esforçar para exercer os dois amores, a nós e ao outro, em todos os instantes da nossa vida, se queremos ser felizes e perfeitos como Deus nos criou.


Wellerson: O senhor acredita que a dor é necessária para que venhamos a educar os nossos sentimentos?

Gilson: Na pedagogia divina não existem a dor e o sofrimento como recursos didáticos, seria um tanto quanto inadequado imputarmos ao Criador esses veículos educativos, adotando-os como meios naturais. Acreditamos, com sinceridade, que a dor se torna uma necessidade educativa quando o espírito se desvia do correto caminho. Portanto, a dor é uma resposta a uma adulteração da Lei de Deus. Aí, sim, ela se torna um recurso de correção indispensável para que o ser se restabeleça ante essa Lei.


Wellerson: Quais são os métodos para que façamos esta educação?

Gilson: A educação do espírito no nível humano, infelizmente, exige a coibição, o cerceamento e a limitação, porque o ser traz tendências de revoltas que arquivou de suas vidas pretéritas, caracterizando o “homem velho”. Assim, habituado à rebeldia e à maldade pelos hábitos do passado, ele nega a Lei de amor proposta pelo nosso Pai. Como se pode observar, via de regra, ele traz essa mórbida disposição a ser mau, antes que bom; antes de desejar o bem ao outro, ele prioriza o bem de si mesmo. Então ele se faz egoísta e pratica iniqüidades, constrange e impõe sofrimentos ao outro. A Lei lhe devolve esse constrangimento e essa dor, para que ele experimente em si mesmo o que provoca no outro. Portanto, a dor, desse ponto de vista, é necessária. Entendemos, no entanto, que ela existe para nos ensinar a não semearmos as suas causas. O segredo da felicidade e da plena realização do espírito consiste em viver de acordo com a Lei de Deus, fazendo o máximo possível para lê-la, pois ela está inscrita na nossa consciência e nos fala a todo instante como devemos agir. Se dermos mais atenção à voz divina que fala em nós através da consciência, seremos capazes de caminhar sempre por estradas condizentes, condignas com a ventura máxima que todos almejamos. Nascemos condenados à felicidade, essa é a Lei, e ainda que por meio da dor e da privação, nós a alcançaremos, pois é o nosso inexorável destino. Embora erremos e soframos, por termos o livre-arbítrio, Deus nos orienta sempre na conquista dessa felicidade. Então, se sofremos devemos imputar isso a nós mesmos.


Wellerson: Como fazer para vivenciar o amor em sua forma plena em uma sociedade materialista, tão violenta, cheia ainda de discriminação e diferenças sociais como a nossa?

Gilson: Todos sabemos, o difícil é praticar. As lições do Evangelho já estão ativas na nossa memória espiritual há muitos séculos. De modo que ninguém ignora, no nível espiritual em que nos encontramos, que a vivência real do amor é uma premente necessidade evolutiva. Mas isso para nós ainda é uma questão teórica, pois na prática ainda agimos por impulsos automáticos, em decorrência das nossas experiências de vida não terem se apoiado em um verdadeiro exercício de amor. Contudo, à medida que nos esforçarmos, inibindo esses impulsos egocêntricos e inadequados, chegará o instante que o amor será exercido como ato automático. Então não haverá mais maldade em nós e nos expressaremos de forma espontânea, sem esforço, como seres amorosos. Isso, porém, ainda demandará tempo, aliás, é um dos motivos do nosso sofrimento, pois queremos ser bons, mas não conseguimos, por portarmos ainda o automatismo dos instintos animalizados. O bem que eu quero, como dizia Paulo de Tarso, eu não faço, porque a maldade é que está automatizada em mim. Então o mal se expressa de forma muito mais facilitada do que o amor. O amor exige sacrifício. Contudo, isso em breve será modificado pela evolução, pelo trabalho constante de vigilância e mais tarde, sem esforço, iremos executar somente o bem. Não devemos sofrer por não conseguirmos realizar esse amor evangélico de uma hora para outra, pois é impossível, mas vamos nos esforçar cada dia um pouco até que se torne realidade. Se não conseguimos verdadeiramente amar os nossos inimigos, como nos pediu o Cristo, pelo menos vamos fazer de tudo para não odiá-los e já será um passo. Se não damos conta de abrir mão do muito que temos em favor dos necessitados, vamos tratar de doar o que nos sobra, ao menos. Se não conseguimos ser verdadeiramente bons, vamos tratar de ser o mais correto possíveis, o mais honestos de que somos capazes. Assim estaremos nos aproximando cada vez mais da ética do verdadeiro amor, da essência do amor, só possível aos homens santos. E nós ainda não somos santos.


Wellerson: Haveria em nossa existência várias nuanças do amor? Quais seriam elas?

Gilson: Com certeza, o amor se expressa na natureza divina em diversas nuanças. Por exemplo: quando as partículas atômicas se atraem, elas estão exercitando o amor. As ondas, quando se sintonizam e ressoam, também estão praticando o amor nas suas essências primárias. A fêmea, ao alimentar o seu filhote, ou o macho, ao protegê-lo, estão ensaiando as primeiras letras do alfabeto do amor. O instinto sexual é igualmente uma manifestação rudimentar do amor angelical. Ao propiciar a união do homem e da mulher ele predispôs a formação do lar e da família, onde se exercita na consangüinidade, o amor humanitário. São expressões progressivas do amor que vão se dilatando, aquilatando-se e se transmutando através do tempo, no laboratório da vida, até que a evolução nos levará a atingir a máxima expressão do amor: doar a nossa vida em favor do outro.


Wellerson: Qual é a mensagem que o senhor deixa para os internautas?

Gilson: Experimentemos amar um pouco mais todos os dias, em pequenas e progressivas doses, até onde possível, para que paulatinamente esse amor venha se dilatar e tomar conta de nossas ações, sentimentos e pensamentos, para que possamos verdadeiramente viver felizes, pois a felicidade só é possível quando aprendemos a amar.


Wellerson Santos


(Foto: Edson Flávio – Entrevista publicada pelo jornal Evangelho e Ação – Órgão de Divulgação da Fraternidade Espírita Irmão Glacus)



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