Entrevista Raul Teixeira


Temas Diversos


No dia 02 de novembro de 2008, tivemos a grata satisfação de conversar e entrevistar um dos maiores tribunos brasileiros da atualidade do pensamento espírita: José Raul Teixeira. Ele esteve fazendo uma jornada de trabalho, com diversas palestras em Minas Gerais. Na oportunidade, realizando um seminário na Sociedade Espírita Joanna de Angelis (Belo Horizonte/MG), recebeu-nos com muito carinho e atenção.

José Raul Teixeira nasceu em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. É licenciado em Física pela Universidade Federal Fluminense, mestre em Educação pela mesma Universidade e Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Em sua terra natal, Niterói (RJ), junto de alguns companheiros, fundou, em 04 de setembro de 1980, a Sociedade Espírita Fraternidade (SEF).

Com seu verbo útil e lúcido, Raul Teixeira é um dos oradores mais requisitados no Brasil e no exterior, tendo visitado todos os estados do Brasil e 40 países levando a mensagem espírita.

Psicografou diversas obras, ditadas por vários espíritos, num total de 28 livros publicados até o momento. Desses livros, alguns já estão traduzidos para o espanhol, o inglês e o italiano, sendo todos os direitos autorais pertencentes ao Remanso Fraterno para atendimento de seus serviços.

Apresentamos aos internautas a entrevista realizada com seus enriquecedores ensinamentos.

Wellerson Santos (Wellerson): Os Benfeitores Espirituais nos informam que o Brasil não possui carma coletivo. O que caracteriza o carma coletivo para uma nação?
Raul Teixeira (Raul):
O carma coletivo se caracteriza por uma intencionalidade coletiva na realização de determinados fenômenos. Quando uma coletividade adota preconceitos raciais, preconceitos étnicos, aplaude determinadas posturas criminosas dos seus governantes, dá ensejo e exige leis que privilegiam o mal, esta sociedade fica co-responsabilizada. No Brasil, temos muitos débitos e carmas negativos decorrentes de ações individuais embora tenha repercutido sobre a comunidade, mas ainda foram ações de indivíduos impostas à massa. Mesmo que haja um ditador, uma criatura do mal na comunidade, não se pode dizer que o carma, que o débito é da comunidade, mas deste indivíduo que o provocou. Só passa a ser um carma coletivo quando a coletividade de uma maneira ou de outra aplaude, chancela ou exige este tipo de programa.

Wellerson: Kardec utiliza-se em seu método pedagógico de várias ferramentas a fim de auxiliar o aluno em seu processo de aprendizagem e uma delas é a intuição. Hoje a Doutrina Espírita continua utilizando-se destas ferramentas. Uma vez que o aprendiz ainda é carente de valores superiores sedimentados em si, ele pode ter interpretações de fatos e informações de maneira errônea. Dessa forma, esta ferramenta não acarretaria um risco em ser adotada?
Raul:
Pelo critério kardequiano não, porque Kardec adota que as verdades devem ser universais. Não existe uma verdade individual. Eu não tenho a minha verdade em detrimento da verdade verdadeira. Por isso é que se eu tiver uma intenção que me leve a um caminho desastroso tenho a vivência dos outros, a relação coletiva para me dizer que estou na contra mão. De modo que, mesmo se eu, por minha intuição, seguir um caminho equivocado, terei a observação dos outros a minha volta. Jamais alguém caminha pelo mundo sem ouvir conselhos, recomendações, todos nós ouvimos variados conselhos, as mais diversas vozes, e optamos. Por mais que a intuição de uma pessoa possa não induzi-la bem, ela tem a referência das demais criaturas da comunidade. Por isso é que o ser humano é um animal social no dizer de Aristóteles.

Wellerson: Em O Livro dos Espíritos, os imortais dizem que o mal ainda sobrepuja o bem porque os bons são tímidos. Por outro lado, Jesus nos ensinou que devemos fazer o bem sem ostentação. Como interpretar o ensinamento que os espíritos transmitiram a Allan Kardec?
Raul:
Não podemos confundir a omissão com a discrição. Quando Jesus Cristo propôs que fizéssemos o bem sem ostentação, que a mão direita desse sem que a esquerda visse, não era deixar de fazer, era fazer sem exibicionismo. Agora, quando alguém se omite, deixa de fazer. A resposta que os espíritos deram a Allan Kardec à pergunta 932 de O Livro dos Espíritos é aquela em que ele indaga: por que é que o mal se desenvolve tanto, se mostra tão soez sobre a Terra em prejuízo e detrimento do bem? Os imortais respondem: por culpa dos bons. Porque os bons são tímidos, o tímido não faz, tem medo. Os maus são ousados e intrigantes, eis a resposta. De modo que não existe relação entre uma coisa e outra. O mal se propaga porque os bons não fazem, não agem, são tímidos, se escondem, são omissos, esta é a relação. Um caso é você fazer e ser discreto, outra coisa é você não fazer e deixar que o mal tome conta. O mal só se alastra onde o bem não ocupou.

Wellerson: No Evangelho de Lucas, capítulo 22, versículo 42, Jesus diz: “Pai, não se faça a minha vontade, mas a Tua.” Existe diferença entre a vontade divina e a vontade de Jesus? Como entender estas palavras de Jesus?
Raul:
A questão é que Jesus sempre disse que viera para cumprir a vontade de Deus. Na medida em que o espírito vai evoluindo a sua vontade vai se ajustando cada vez mais à vontade do Criador. Nada obstante, temos a nossa individualidade. Os espíritos superiores não são iguais, são similares, porque estão todos olhando para o mesmo fanal que é o Criador. Estão todos se dirigindo para o mesmo pólo que é Deus. No entanto, cada qual escolhe a sua trilha. Um anjo escolhe servir a humanidade, outro escolhe servir o reino vegetal, outro quer servir o reino mineral, e por aí afora. Uns querem lidar com os espíritos na faixa infantil da humanidade, outros se ocupam dos espíritos saindo do corpo na velhice, então todos os espíritos estão buscando o bem, se dirigindo a Deus, mas por estradas próprias. Cada qual mantém a sua sensibilidade. Não são todos os anjos que têm sensibilidades para as mesmas coisas e queiram fazer as mesmas coisas, embora possam. Você pode cantar, dançar e tudo mais, mas escolhe escrever. O fato de Jesus ter pedido a Deus para que se fizesse a vontade superior é porque por mais que um espírito seja avançado, a vontade do Pai Celeste ainda será mais perfeita que a sua, porque a perfeição absoluta está em Deus.

Wellerson: Levando em consideração que cada indivíduo encontra-se num nível de evolução intelecto-moral e possui aspirações diferenciadas, nem sempre o que é bom para um o será para outro. Como conciliar estas diferenças naturais com a proposta do Cristo de fazermos aos outros aquilo que gostaríamos que ele nos fizesse?
Raul:
Qualquer que seja o grau de minha evolução quero sempre o melhor para mim. Mesmo nos reinos inferiores, os animais querem a caça maior para si, querem a toca maior para si, querem a fêmea melhor para si, no caso dos machos. Cada ser humano tem uma percepção diferente da felicidade, o que ele quer para si é sempre o melhor. Para um a felicidade é a caça, para outro é a pesca, para outro é dormir, mas quero sempre o melhor para mim. É neste sentido que devo desejar para os outros.

Wellerson: No transcorrer da História da Humanidade percebemos que as leis humanas se aproximam gradativamente das leis divinas. O que dizer então a respeito das leis que hoje legalizam o casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Raul:
O espírito Emmanuel nos diz no seu livro O Consolador que chegará o dia em que as leis humanas se enquadrarão item por item às leis divinas. Chegará, ainda não chegou. Vemos que as leis humanas, por melhores que sejam, ainda retratam a inferioridade e as limitações do ser humano. O casamento entre pessoas do mesmo sexo não é a coisa mais grave, a coisa mais grave são os crimes que são cometidos por pessoas de sexos diferentes. Se estivermos vendo como um crime duas pessoas que se amam, ainda que de mesma morfologia, viverem juntas e fazerem o bem, o que é que vamos pensar das que estupram, dos pedófilos, dos que furtam o erário, os que mantêm o povo na pobreza para que eles e sua família enriqueçam? Então não podemos querer coar mosquitos e deixar se engolir elefantes. Temos que ver que as leis humanas carregam imperfeições, mas quando surge uma lei de formalização quanto ao casamento entre homossexuais é para evitar problemas mais graves, da ilicitude. Porque eles vão caminhar juntos, com casamento formal ou sem casamento formal. Desta forma, estamos diante do mesmo problema das leis do divórcio. Não é a lei que separa a pessoa, é a pessoa que já está separada e busca a lei para formalizar a separação socialmente. No caso desses casamentos entre homossexuais a lei apenas formaliza aquilo que eles já estão fazendo, eles já estão vivendo juntos. Como ainda temos uma sociedade que prima pela hipocrisia, pensamos que a verdade só existe a partir do momento em que ela foi escrita no papel, quando isto não é verdade. Temos que educar rapazes e moças para o respeito a si mesmos, ao seu corpo, às relações humanas. Em relação à legislação, nenhuma delas é perfeita na Terra, todas terão aquilo que hoje encontramos e chamamos de brechas da lei. Todas as leis são feitas deixando brechas para que quando quisermos deturpá-las a brecha permita. Logo, o legislador é um ser humano com as suas fragilidades, com a sua humanidade, e obviamente não será a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo o ponto grave que mereça maior atenção da sociedade.

Wellerson: Haveria algum tipo de problema ou conseqüência negativa para a criança que é adotada por casais homossexuais?
Raul:
A princípio não. Porque a grande massa de homossexuais que existe na sociedade é filha de casais heterossexuais. E por que ficaram homossexuais? De repente poderíamos concluir que são casais heterossexuais que fazem filhos homossexuais. E até hoje não temos nenhuma notícia dentre os casais homossexuais que criaram filhos que tenham se tornado igualmente homossexuais. Particularmente conheço vários rapazes, hoje pais de família, que foram criados por suas tias homossexuais, que viviam com elas e com outras pessoas, na maior discrição, e se tornaram homens de bem, médicos, engenheiros. Só souberam que as tias eram homossexuais quando eles cresceram e elas os chamaram para dizer. Eles nunca presenciaram nenhum ato menos lógico e lúcido dentro de casa, nunca presenciaram qualquer desrespeito, nunca viram estas tias tocarem nas mãos uma das outras. Eles chamavam uma de tia verdadeira e a outra era a companheira. Então, isto nos leva a verificar que muitas vezes a sociedade estereotipa determinados comportamentos. Vemos casais homossexuais, porque eu lido com muita gente, de uma respeitabilidade social incrível. Como vemos casais heterossexuais de um desrespeito brutal. Eles brigam, eles se agridem, eles batem, o marido passa com outra mulher na frente da esposa, a mulher passa com outro homem na frente do marido, e os casais homossexuais têm demonstrado uma maior autenticidade no bem querer. Não estamos defendendo e nem acusando homossexuais, estamos constatando o que se vê no mundo. De modo que os bons espíritos nos dizem que como o amor não tem sexo, melhor será uma criança ser amparada por um casal homossexual do que viver nas ruas, aprendendo o que as ruas têm para ensinar, que é sempre o pior. Naturalmente, vivendo numa sociedade cristã hipócrita, as pessoas falam contra a adoção por homossexuais, mas não se predispõem a adotar. Temos que verificar que Deus não está observando qual é o direcionamento que estamos dando a nossa libido, Ele está acompanhando o amor que nós temos.

Wellerson: Qual a mensagem que o senhor deixa para os internautas?
Raul:
Assumir a ação do Evangelho. E a ação do Evangelho é a ação do amor. Aprendemos com Paulo de Tarso que quando o amor se torna dinâmico, quando o amor deixa de ser uma virtude paralisada e estagnada, ele se torna caridade. A caridade é o amor dinâmico, fora do qual não existe salvação. Dirijo aos meus irmãos internautas, para que não permitam que o Evangelho remanesça acomodado nas consciências, mas que vaze através de suas mãos, repercuta através de suas vozes e caminhe mundo afora através de seus pés.

Jesus Conosco!


Wellerson Santos

(Foto Lincoln Junio de Oliveira Macedo – Entrevista publicada no jornal Evangelho e Ação – Órgão de Divulgação da Fraternidade Espírita Irmão Glacus)

Entrevista: Nestor João Masotti



Espiritismo, seu Papel Educativo no Terceiro Milênio

No dia 03 de abril de 2008, em Belo Horizonte – MG, coube a Nestor João Masotti a conferência de abertura do IV Congresso Espírita Mineiro abordando o tema: Espiritismo, seu Papel Educativo no Terceiro Milênio. O presidente da Federação Espírita Brasileira iniciou sua palestra lembrando alguns tópicos do livro: Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, psicografado pelo venerando médium Francisco Cândido Xavier, ditado pelo espírito Humberto de Campos (Irmão X).

Masotti citou-nos Ismael, o Governador Espiritual das terras brasileiras, a figura ímpar de Adolfo Bezerra de Menezes que desenvolveu um trabalho notável junto a Doutrina Espírita no que tange a sua unificação no solo brasileiro. Lembrou Allan Kardec, que por meio da mediunidade de Frederico Júnior, trouxe diversas mensagens. Falou-nos ainda, a respeito do processo de divulgação da Doutrina Espírita fora dos limites brasileiros através dos encontros internacionais, frisando que nestes encontros o português do Brasil é a língua falada. Isto tudo é fato, de uma forma espontânea e natural. Não há aqui no Brasil nenhuma organização preparando e treinando pessoas para mandar para o Exterior com este objetivo. O que há por certo é a ação dos espíritos superiores fazendo com que haja a materialização do trabalho programado por Jesus para que esta tarefa da difusão da doutrina espírita começasse a ser espalhada dentro dos princípios experenciados por todos nós aqui no Brasil e levados a outros países a mensagem do Cristianismo Redivivo – disse Masotti.

Finalizando sua conferência ele questionou: Como vamos colaborar com o mundo de regeneração?. O oportuno questionamento leva-nos a meditar e a avaliar qual é o papel que nós espíritas temos diante da Doutrina que abraçamos. Este trabalho cresce quando nos dedicamos cada vez mais. Os espíritos estão fazendo a parte deles, a nós os espíritas reencarnados que temos por certo as nossas obrigações naturais na nossa vida, cabe multiplicar estes esforços e desenvolver um trabalho cada vez mais amplo e voltado sempre a Doutrina Espírita. Sua palestra realmente enriqueceu-nos trazendo-nos ensinamentos brilhantes.

Nestor João Masotti, há mais de cinqüenta anos milita na Doutrina Espírita. Ele nos diz: Nós começamos, ou melhor, nós acordamos nesta encarnação já espíritas. E desde a sua juventude participando do movimento juvenil através de Mocidades não mais deixou o trabalho. Atualmente está na presidência da Federação Espírita Brasileira (FEB) e também como secretário-geral do Conselho Espírita Internacional (CEI).

No dia seguinte à sua conferência, Nestor João Masotti com muito carinho respondeu aos nossos questionamentos que ora apresentamos aos caros internautas para que todos nós possamos nos deleitar e meditar nestas grandes reflexões.

Wellerson Santos (Wellerson): O tema que foi dado ao senhor, neste IV Congresso Espírita Mineiro foi: Espiritismo, seu papel educativo no Terceiro Milênio. Que metodologias educacionais o Espiritismo nos apresenta para a nossa caminhada evolutiva?
Nestor João Masotti (Nestor):
Entendemos que o processo educativo básico é aquele contido no próprio Evangelho de Jesus. Os pesquisadores acabam descobrindo que Jesus é o maior psicólogo e pedagogo que o Mundo já conheceu. O que temos procurado destacar é a importância de desenvolvermos um trabalho intenso por meio das Casas Espíritas promovendo o estudo do Evangelho. A Casa Espírita oferece o espaço de trabalho onde exercitamos a capacidade de sermos fraternos, de trabalhar o nosso domínio contra as más inclinações que ainda nos caracterizam. Começaremos a criar hábitos bons, como observa Kardec, quando diz que educar é formar hábitos. Educar a luz da Doutrina Espírita é criar hábitos bons. O que nos cabe, acima de tudo, a nosso ver como espíritas é permanecer na simplicidade, no trabalho no dia-a-dia. Não tornar complexos os trabalhos com metodologias que podem ser úteis em muitos aspectos, mas que na prática não é viável. Observamos que a base principal da educação é o lar. E a educação se faz basicamente de que maneira? Por meio das crianças vendo os exemplos dos pais e procurando copiá-los. Assim, o processo de educação básico é que cada um possa realmente dar o bom exemplo para o próximo, porque querendo ou não, todos nós somos educadores pela nossa maneira de agir, pois estamos direta ou indiretamente influenciando o ambiente social em que estamos, podendo ser esta influência positiva ou negativa. Se somos conscientes na Doutrina Espírita, temos uma diretriz segura que nos cabe trilhar, que é exatamente o código do Evangelho. Basta que procuremos vivenciar esse código. O processo de educação, a nosso ver, é consequência disso.

Wellerson: Quais são, segundo seu ponto de vista, os objetivos a serem alcançados por nós espíritas neste Terceiro Milênio?
Nestor:
A Doutrina Espírita coloca com muita clareza os objetivos a serem alcançados em nossa encarnação. O principal deles é o de sermos melhores. Esse é o objetivo básico da reencarnação, e o melhor é, tanto quanto possível, ampliar o nosso conhecimento, bem como desenvolver virtudes que ainda não temos. Se quisermos ter um fecho de encarnação mais sereno, busquemos nos melhorar, porque não vamos nos transformar em espíritos puros em uma única encarnação, mas podemos dar passos significativos ficando em paz conosco neste processo. Neste período do Terceiro Milênio, observamos que deve haver uma intensificação ampla no campo do conhecimento e no da vivência das questões espirituais. O homem vai começar a conviver mais com a Espiritualidade e esta deixará de ser mera questão de crença e será uma vivência, por meio da intensificação dos trabalhos mediúnicos. É muito importante que todos aqueles que já têm conhecimento espírita comecem, tanto quanto possível, a contribuir, não só pela divulgação dos princípios, mas pela vivência destes, partindo da postura já colocada de que a prática é sempre um exemplo positivo no processo educacional do semelhante.

Wellerson: O senhor acha que o Movimento Espírita Brasileiro tem atuado de forma dinâmica na divulgação da sua doutrina e de seus preceitos?
Nestor:
Tem. Observamos um crescimento nos mais variados setores. Logicamente que a Doutrina começou a ser divulgada por meio do livro puro e simples. Mais tarde, periódicos também apareceram, alguns timidamente, outros intensificando a divulgação. Hoje observamos que, além de livros, periódicos e folhetos, surgem na comunicação espírita, outras mídias como rádio, televisão, dvds, cds. Entendemos que não podemos nos acomodar com este crescimento já conquistado, precisamos é ampliar cada vez mais esta capacidade de comunicação para que todos tenham a possibilidade de conhecer a Doutrina Espírita e a mensagem que ela traz. A questão não é converter ou convencer quem não conhece a Doutrina Espírita, nosso objetivo é divulgá-la, dando às pessoas o natural direito de avaliar, questionar, verificar e aceitar ou não de acordo com a liberdade de cada um. A nossa parte de espíritas convictos é de procurar divulgar, usando todas as mídias da melhor forma possível, porque, conforme dizem amigos espirituais, tem muita gente no mundo já madura para conhecer a Doutrina Espírita, só que para muitos a Doutrina ainda não chegou.

Wellerson: Como a Federação Espírita Brasileira vê o Movimento Espírita Mineiro da atualidade?
Nestor:
Dinâmico, equilibrado e seguro como sempre. Uma das coisas que sempre nos impressionou positivamente no Movimento Mineiro é o trabalho de divulgação, muito vinculado ao Evangelho, ou seja, colocando a Doutrina Espírita tal qual tal ela se apresenta desde o começo, como o Consolador Prometido por Jesus oferecido para a Humanidade Inteira. Em Minas Gerais o que temos observado é um crescimento, um dinamismo maior no próprio Movimento, não só no campo da divulgação, mas também em relação à própria entidade federativa: a União Espírita Mineira, que vem ampliando sua ação de contato com os grupos espíritas, por intermédio de uma boa comunicação e de um bom relacionamento. Isso é possível, sobretudo, graças aos trabalhos do Conselho Federativo de Minas Gerais (COFEMG) e especialmente pelas ações das Comissões Regionais (CREs), que levam uma dinâmica de apoio, de diálogo, de conhecimento e de integração a muitos Centros Espíritas, situados nos mais variados espaços do território mineiro.

Wellerson: Qual é a mensagem que o senhor deixa para os internautas?
Nestor:
O que procuramos destacar sempre é que todos nós, espíritas convictos deste trabalho, vivenciamos uma oportunidade rara no processo da evolução da Humanidade. Estamos em uma fase de transição, entre o Mundo de Expiações e Provas e o Mundo de Regeneração. E toda fase de transição se apresenta mais propícia às mudanças. As pessoas, as situações, as instituições estão mais abertas a aceitar as transformações que visam o aprimoramento. Neste momento, é mais oportuno oferecer a Doutrina Espírita como base de trabalho e de comportamento para todos aqueles que buscam novos parâmetros. A Doutrina Espírita deve ser este parâmetro, já que ela representa o Consolador Prometido por Jesus. Quando conseguirmos mudar para melhor, interiormente, os objetivos da nossa existência serão alcançados: ser útil no trabalho em favor do próximo e trabalhar para o nosso próprio melhoramento, preparando-nos para o retorno à vida espiritual com mais paz, mais harmonia e mais entendimento em relação a nós mesmos.

Paz e Alegria!
Wellerson Santos

(Foto Edson Flávio – Entrevista publicada no jornal Evangelho e Ação – Órgão de Divulgação da Fraternidade Espírita Irmão Glacus)

Artigo: Os Apóstolos e a sua Missão

No ano em que Jesus morreu, na manhã de Pentecostes[1] muitos seguidores de Jesus se reuniram em Jerusalém. Enquanto oravam e lembravam o seu Mestre, um vento forte começou a rugir, como uma tempestade vinda do céu, e invadiu a casa onde estavam os doze[2]. Línguas de fogo surgiram e, começaram a falar como nunca tinham feito antes. Os que os ouviam podiam escutá-los, pois que cada um falava em uma língua[3]. Escutando os seguidores de Jesus, os presentes ouviram, além do aramaico e do grego, comuns em Jerusalém, línguas peculiares de todos os lugares de onde vinham os peregrinos.
Tocados com a pregação dos apóstolos, três mil pessoas se renderam aos ensinamentos de Jesus e se converteram. E foi assim, pela palavra dos discípulos do Cristo, que o Cristianismo começou a se alastrar pelo mundo.
Naquele mesmo dia Jesus se despede dos seus. Seriam ministrados os últimos ensinamentos. E que ensinamentos...
“Não ireis pelo caminho das gentes, mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel. Não vim para os sãos e sim para os doentes.
E indo, pregai dizendo: É chegado o Reino dos Céus.
Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios: de graça recebestes, de graças dai.
Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos, nem alforges para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o operário do seu alimento.
E, em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurais saber quem nela seja digno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis. E, quando entrardes nalguma casa, saudai-a. E se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos, portanto, sedes prudentes como as serpentes e simples como as pombas.
Acautelai-vos, porém dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; e sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de Mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios.
Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós. E odiados de todos sereis por causa do Meu Nome; mas aquele que perseverar até o fim será salvo.
E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo. Não cuideis que vim trazer a paz a Terra; não vim trazer a paz, mas a espada
[4]".
É muito importante que façamos uma ressalva apontando uma diferença que ainda não é compreendida por muitos. A diferença entre a palavra discípulo e a palavra apóstolo.
A palavra discípulo derivada do latim significa aluno, nome que se dá ao que recebe ensinos do mestre. Jesus teve muitos discípulos, homens e mulheres que seguiram os seus ensinamentos, que tiveram suas vidas transformadas, que aprenderam com Ele o significado da vida. Os discípulos da Boa Nova de Jesus são os mensageiros do seu amor nos mais recônditos lugares do Orbe Terrestre, são hoje, aqueles que Lhe seguem as pegadas.
Já a palavra apóstolo, derivada do grego, significa enviado, legado, mensageiro, embaixador. Este termo foi usado por Jesus para designar os discípulos que Ele escolheu por companheiros e confidentes durante o resto de sua pregação e, posteriormente, que sairiam pelo mundo para pregar o Evangelho. De acordo com Emmanuel seriam os condutores do espírito.

"Naqueles dias, Jesus se retirou para o Monte a fim de orar, e, passou a noite orando a Deus. Quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos.
Seus nomes são os seguintes: Simão, a quem Cristo chamou Pedro, André, seu irmão, Tiago, filho de Zebedeu, seu irmão João, o discípulo amado de Jesus, Filipe, Bartolomeu, que também é chamado Natanael, Tomé, chamado Dídimo, Mateus ou Levi, o publicano, Tiago, filho de Alfeu, Judas Tadeu também chamado Lebeu, Simão Cananeu ou Zelote, e Judas Iscariotes, o traidor
[5]”.
A pregação dos apóstolos que começou na Palestina estendeu-se, mais tarde, a outros países.
Por sua vida digna, os apóstolos foram conquistando as almas e difundindo a fé cristã. Alguns deles tornaram-se autores de alguns livros do Novo Testamento.
A Casa do Caminho foi indubitavelmente a primeira comunidade cristã na história da Humanidade. Simão Pedro o seu fundador, presidiu-lhe os destinos coadjuvado pelos apóstolos Bartolomeu, Tiago, Filipe e João. Os demais apóstolos demoraram pouco tempo, pois saíram para difundir o Evangelho de Jesus entre os povos gentios, sendo na sua maioria martirizados.
Conta-se que o casarão principal era um pavilhão singelo não mais que um grande telheiro revestido de paredes frágeis, carentes de todo e qualquer conforto. A Casa do Caminho era uma plantinha tenra, oriunda de uma semente divina, a enfrentar titânicos embates, num ambiente hostil e adverso. De um lado eram mais de cem pessoas recebendo alimentação diária, os serviços de assistência aos enfermos, aos órfãos e aos desamparados, prostitutas, criaturas de má conduta, loucos incuráveis e viciados de variados matizes. De outro lado, a perseguição atroz do Judaísmo o que obrigou a uma relação de permanentes concessões.
O livro Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, menciona parte das atividades apostólicas, sobretudo dos apóstolos Pedro e Paulo, encarregados de modo especial do apostolado entre judeus e gentios, respectivamente.
A vida dos apóstolos de Jesus é roteiro de dignificação, amor e trabalho. Possamos tê-los como exemplos para as nossas experiências diárias.
Desejamos a todos muita paz e harmonia.

Wellerson Santos

[1] Festa realizada para celebrar a colheita do trigo, comemorada cinqüenta dias depois da Páscoa
[2] Matias já havia sido convidado a engrossar as fileiras do apostolado.
[3] Fenômeno este hoje estudado pela Doutrina Espírita, num tipo de mediunidade, chamado Xenoglossia.
[4] Mt 10:5-22
[5] Lc 6:12-16