Entrevista Raul Teixeira


Temas Diversos


No dia 02 de novembro de 2008, tivemos a grata satisfação de conversar e entrevistar um dos maiores tribunos brasileiros da atualidade do pensamento espírita: José Raul Teixeira. Ele esteve fazendo uma jornada de trabalho, com diversas palestras em Minas Gerais. Na oportunidade, realizando um seminário na Sociedade Espírita Joanna de Angelis (Belo Horizonte/MG), recebeu-nos com muito carinho e atenção.

José Raul Teixeira nasceu em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. É licenciado em Física pela Universidade Federal Fluminense, mestre em Educação pela mesma Universidade e Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Em sua terra natal, Niterói (RJ), junto de alguns companheiros, fundou, em 04 de setembro de 1980, a Sociedade Espírita Fraternidade (SEF).

Com seu verbo útil e lúcido, Raul Teixeira é um dos oradores mais requisitados no Brasil e no exterior, tendo visitado todos os estados do Brasil e 40 países levando a mensagem espírita.

Psicografou diversas obras, ditadas por vários espíritos, num total de 28 livros publicados até o momento. Desses livros, alguns já estão traduzidos para o espanhol, o inglês e o italiano, sendo todos os direitos autorais pertencentes ao Remanso Fraterno para atendimento de seus serviços.

Apresentamos aos internautas a entrevista realizada com seus enriquecedores ensinamentos.

Wellerson Santos (Wellerson): Os Benfeitores Espirituais nos informam que o Brasil não possui carma coletivo. O que caracteriza o carma coletivo para uma nação?
Raul Teixeira (Raul):
O carma coletivo se caracteriza por uma intencionalidade coletiva na realização de determinados fenômenos. Quando uma coletividade adota preconceitos raciais, preconceitos étnicos, aplaude determinadas posturas criminosas dos seus governantes, dá ensejo e exige leis que privilegiam o mal, esta sociedade fica co-responsabilizada. No Brasil, temos muitos débitos e carmas negativos decorrentes de ações individuais embora tenha repercutido sobre a comunidade, mas ainda foram ações de indivíduos impostas à massa. Mesmo que haja um ditador, uma criatura do mal na comunidade, não se pode dizer que o carma, que o débito é da comunidade, mas deste indivíduo que o provocou. Só passa a ser um carma coletivo quando a coletividade de uma maneira ou de outra aplaude, chancela ou exige este tipo de programa.

Wellerson: Kardec utiliza-se em seu método pedagógico de várias ferramentas a fim de auxiliar o aluno em seu processo de aprendizagem e uma delas é a intuição. Hoje a Doutrina Espírita continua utilizando-se destas ferramentas. Uma vez que o aprendiz ainda é carente de valores superiores sedimentados em si, ele pode ter interpretações de fatos e informações de maneira errônea. Dessa forma, esta ferramenta não acarretaria um risco em ser adotada?
Raul:
Pelo critério kardequiano não, porque Kardec adota que as verdades devem ser universais. Não existe uma verdade individual. Eu não tenho a minha verdade em detrimento da verdade verdadeira. Por isso é que se eu tiver uma intenção que me leve a um caminho desastroso tenho a vivência dos outros, a relação coletiva para me dizer que estou na contra mão. De modo que, mesmo se eu, por minha intuição, seguir um caminho equivocado, terei a observação dos outros a minha volta. Jamais alguém caminha pelo mundo sem ouvir conselhos, recomendações, todos nós ouvimos variados conselhos, as mais diversas vozes, e optamos. Por mais que a intuição de uma pessoa possa não induzi-la bem, ela tem a referência das demais criaturas da comunidade. Por isso é que o ser humano é um animal social no dizer de Aristóteles.

Wellerson: Em O Livro dos Espíritos, os imortais dizem que o mal ainda sobrepuja o bem porque os bons são tímidos. Por outro lado, Jesus nos ensinou que devemos fazer o bem sem ostentação. Como interpretar o ensinamento que os espíritos transmitiram a Allan Kardec?
Raul:
Não podemos confundir a omissão com a discrição. Quando Jesus Cristo propôs que fizéssemos o bem sem ostentação, que a mão direita desse sem que a esquerda visse, não era deixar de fazer, era fazer sem exibicionismo. Agora, quando alguém se omite, deixa de fazer. A resposta que os espíritos deram a Allan Kardec à pergunta 932 de O Livro dos Espíritos é aquela em que ele indaga: por que é que o mal se desenvolve tanto, se mostra tão soez sobre a Terra em prejuízo e detrimento do bem? Os imortais respondem: por culpa dos bons. Porque os bons são tímidos, o tímido não faz, tem medo. Os maus são ousados e intrigantes, eis a resposta. De modo que não existe relação entre uma coisa e outra. O mal se propaga porque os bons não fazem, não agem, são tímidos, se escondem, são omissos, esta é a relação. Um caso é você fazer e ser discreto, outra coisa é você não fazer e deixar que o mal tome conta. O mal só se alastra onde o bem não ocupou.

Wellerson: No Evangelho de Lucas, capítulo 22, versículo 42, Jesus diz: “Pai, não se faça a minha vontade, mas a Tua.” Existe diferença entre a vontade divina e a vontade de Jesus? Como entender estas palavras de Jesus?
Raul:
A questão é que Jesus sempre disse que viera para cumprir a vontade de Deus. Na medida em que o espírito vai evoluindo a sua vontade vai se ajustando cada vez mais à vontade do Criador. Nada obstante, temos a nossa individualidade. Os espíritos superiores não são iguais, são similares, porque estão todos olhando para o mesmo fanal que é o Criador. Estão todos se dirigindo para o mesmo pólo que é Deus. No entanto, cada qual escolhe a sua trilha. Um anjo escolhe servir a humanidade, outro escolhe servir o reino vegetal, outro quer servir o reino mineral, e por aí afora. Uns querem lidar com os espíritos na faixa infantil da humanidade, outros se ocupam dos espíritos saindo do corpo na velhice, então todos os espíritos estão buscando o bem, se dirigindo a Deus, mas por estradas próprias. Cada qual mantém a sua sensibilidade. Não são todos os anjos que têm sensibilidades para as mesmas coisas e queiram fazer as mesmas coisas, embora possam. Você pode cantar, dançar e tudo mais, mas escolhe escrever. O fato de Jesus ter pedido a Deus para que se fizesse a vontade superior é porque por mais que um espírito seja avançado, a vontade do Pai Celeste ainda será mais perfeita que a sua, porque a perfeição absoluta está em Deus.

Wellerson: Levando em consideração que cada indivíduo encontra-se num nível de evolução intelecto-moral e possui aspirações diferenciadas, nem sempre o que é bom para um o será para outro. Como conciliar estas diferenças naturais com a proposta do Cristo de fazermos aos outros aquilo que gostaríamos que ele nos fizesse?
Raul:
Qualquer que seja o grau de minha evolução quero sempre o melhor para mim. Mesmo nos reinos inferiores, os animais querem a caça maior para si, querem a toca maior para si, querem a fêmea melhor para si, no caso dos machos. Cada ser humano tem uma percepção diferente da felicidade, o que ele quer para si é sempre o melhor. Para um a felicidade é a caça, para outro é a pesca, para outro é dormir, mas quero sempre o melhor para mim. É neste sentido que devo desejar para os outros.

Wellerson: No transcorrer da História da Humanidade percebemos que as leis humanas se aproximam gradativamente das leis divinas. O que dizer então a respeito das leis que hoje legalizam o casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Raul:
O espírito Emmanuel nos diz no seu livro O Consolador que chegará o dia em que as leis humanas se enquadrarão item por item às leis divinas. Chegará, ainda não chegou. Vemos que as leis humanas, por melhores que sejam, ainda retratam a inferioridade e as limitações do ser humano. O casamento entre pessoas do mesmo sexo não é a coisa mais grave, a coisa mais grave são os crimes que são cometidos por pessoas de sexos diferentes. Se estivermos vendo como um crime duas pessoas que se amam, ainda que de mesma morfologia, viverem juntas e fazerem o bem, o que é que vamos pensar das que estupram, dos pedófilos, dos que furtam o erário, os que mantêm o povo na pobreza para que eles e sua família enriqueçam? Então não podemos querer coar mosquitos e deixar se engolir elefantes. Temos que ver que as leis humanas carregam imperfeições, mas quando surge uma lei de formalização quanto ao casamento entre homossexuais é para evitar problemas mais graves, da ilicitude. Porque eles vão caminhar juntos, com casamento formal ou sem casamento formal. Desta forma, estamos diante do mesmo problema das leis do divórcio. Não é a lei que separa a pessoa, é a pessoa que já está separada e busca a lei para formalizar a separação socialmente. No caso desses casamentos entre homossexuais a lei apenas formaliza aquilo que eles já estão fazendo, eles já estão vivendo juntos. Como ainda temos uma sociedade que prima pela hipocrisia, pensamos que a verdade só existe a partir do momento em que ela foi escrita no papel, quando isto não é verdade. Temos que educar rapazes e moças para o respeito a si mesmos, ao seu corpo, às relações humanas. Em relação à legislação, nenhuma delas é perfeita na Terra, todas terão aquilo que hoje encontramos e chamamos de brechas da lei. Todas as leis são feitas deixando brechas para que quando quisermos deturpá-las a brecha permita. Logo, o legislador é um ser humano com as suas fragilidades, com a sua humanidade, e obviamente não será a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo o ponto grave que mereça maior atenção da sociedade.

Wellerson: Haveria algum tipo de problema ou conseqüência negativa para a criança que é adotada por casais homossexuais?
Raul:
A princípio não. Porque a grande massa de homossexuais que existe na sociedade é filha de casais heterossexuais. E por que ficaram homossexuais? De repente poderíamos concluir que são casais heterossexuais que fazem filhos homossexuais. E até hoje não temos nenhuma notícia dentre os casais homossexuais que criaram filhos que tenham se tornado igualmente homossexuais. Particularmente conheço vários rapazes, hoje pais de família, que foram criados por suas tias homossexuais, que viviam com elas e com outras pessoas, na maior discrição, e se tornaram homens de bem, médicos, engenheiros. Só souberam que as tias eram homossexuais quando eles cresceram e elas os chamaram para dizer. Eles nunca presenciaram nenhum ato menos lógico e lúcido dentro de casa, nunca presenciaram qualquer desrespeito, nunca viram estas tias tocarem nas mãos uma das outras. Eles chamavam uma de tia verdadeira e a outra era a companheira. Então, isto nos leva a verificar que muitas vezes a sociedade estereotipa determinados comportamentos. Vemos casais homossexuais, porque eu lido com muita gente, de uma respeitabilidade social incrível. Como vemos casais heterossexuais de um desrespeito brutal. Eles brigam, eles se agridem, eles batem, o marido passa com outra mulher na frente da esposa, a mulher passa com outro homem na frente do marido, e os casais homossexuais têm demonstrado uma maior autenticidade no bem querer. Não estamos defendendo e nem acusando homossexuais, estamos constatando o que se vê no mundo. De modo que os bons espíritos nos dizem que como o amor não tem sexo, melhor será uma criança ser amparada por um casal homossexual do que viver nas ruas, aprendendo o que as ruas têm para ensinar, que é sempre o pior. Naturalmente, vivendo numa sociedade cristã hipócrita, as pessoas falam contra a adoção por homossexuais, mas não se predispõem a adotar. Temos que verificar que Deus não está observando qual é o direcionamento que estamos dando a nossa libido, Ele está acompanhando o amor que nós temos.

Wellerson: Qual a mensagem que o senhor deixa para os internautas?
Raul:
Assumir a ação do Evangelho. E a ação do Evangelho é a ação do amor. Aprendemos com Paulo de Tarso que quando o amor se torna dinâmico, quando o amor deixa de ser uma virtude paralisada e estagnada, ele se torna caridade. A caridade é o amor dinâmico, fora do qual não existe salvação. Dirijo aos meus irmãos internautas, para que não permitam que o Evangelho remanesça acomodado nas consciências, mas que vaze através de suas mãos, repercuta através de suas vozes e caminhe mundo afora através de seus pés.

Jesus Conosco!


Wellerson Santos

(Foto Lincoln Junio de Oliveira Macedo – Entrevista publicada no jornal Evangelho e Ação – Órgão de Divulgação da Fraternidade Espírita Irmão Glacus)

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