Entrevista: Wagner Gomes da Paixão


Espiritismo com Jesus


Abordando o tema “Espiritismo com Jesus”, Wagner Gomes da Paixão iniciou a sua conferência no IV Congresso Espírita Mineiro falando-nos das diversas etapas pelas quais o princípio inteligente passa, nos diferentes reinos – mineral, vegetal, animal até o hominal. Elucidou sobre a atual fase de transição que estamos vivendo, de mundo de expiações e provas para um mundo de regeneração. Alertou ainda quanto a nossa posição perante a existência física para que não sejamos transferidos para mundos menos desenvolvidos. "Deus não pune; ama. Por isso sempre renova as possibilidades" – disse Wagner. As lições do palestrante foram de otimismo.

Wagner iniciou na doutrina espírita quando contava 18 anos. Visitando a casa de uma tia-avó que é sua madrinha de batismo, participou de um culto evangélico que ela então começara. “Ouvindo aquelas páginas que me chamaram de modo especial a atenção, disse a ela que me interessaria em conhecer aquele material. Minha tão prezada tia-avó passou a me presentear com as obras básicas do Espiritismo, em seguida com as obras de André Luiz e debrucei-me sobre elas em um grande período, quase dois anos lendo-as, até que fui convidado a ir a um centro espírita, não mais me afastando deste movimento renovador. Já são 25 anos de atividades ininterruptas na Seara” – disse ele.

Atualmente, Wagner Gomes da Paixão tem uma participação espontânea e de coração no Movimento Espírita em geral. “Procuramos dar, a título de reconhecimento e gratidão, o nosso apagado apoio à União Espírita Mineira que tem sido uma verdadeira mãe para nós, através de seus dirigentes e cooperadores, e temos a nossa casa de trabalhos espíritas em Mário Campos, MG.”

Logo após a sua conferência, Wagner Gomes da Paixão foi recebido na sala de imprensa para realizarmos nossa entrevista. Ficamos confortados com as suas mensagens de incentivo, de ânimo, de otimismo, trazendo-nos profundos esclarecimentos acerca dos ensinamentos de Jesus e que compartilhamos com os queridos leitores nesta oportunidade.

Wellerson Santos (Wellerson): Na Última Ceia, Jesus prometeu-nos enviar um outro Consolador, o Espírito de Verdade, que ficaria conosco por toda a Eternidade. Quais são as evidências de que realmente o Espiritismo é o Consolador Prometido por Jesus?
Wagner Gomes da Paixão (Wagner):
Temos no primeiro capítulo do livro A Gênese, intitulado “Caráter da Revelação Espírita”, uma série de raciocínios e de fatos apresentados por Allan Kardec que demonstram à saciedade quanto o Espiritismo cumpre em tudo estas características do Consolador Prometido. Mas bastaria resumir, na atualidade, com todo o trabalho realizado por grandes espíritas, dentre eles Chico Xavier, que a vivência da caridade é o coroamento desta obra evolutiva dos seres que vincula, profundamente, no sentido radical, de raiz, a Doutrina Espírita ao Evangelho de Jesus. É o retorno Dele, o Divino Mestre, ao mundo.

Wellerson: Durante muito tempo na história o Espiritismo foi vilipendiado. Acusaram-nos de sermos hereges por estarmos indo contra a doutrina cristã. Ainda hoje sofremos tais acusações por parte de correntes religiosas que merecem o nosso profundo respeito. Como nós espíritas devemos agir diante de tais dificuldades e tais acusações?
Wagner:
Serenos. Não temos que nos ocupar dos ataques. Jesus disse que o discípulo não é maior do que o Mestre. Ele partiu da Terra nos braços de uma cruz; nós apenas sofremos algumas pedradinhas. O equívoco das religiões formalizadas passa pelo problema da interpretação radical de determinados temas, dos preconceitos que se alimentam, não há um espírito científico, uma abertura efetiva de coração nos grupos que, ao contrário, trabalham contra outros, numa competição indigna dos verdadeiros cristãos. Na verdade, encontramos na Terra religiões “materialistas”, que obviamente são como as lojas que precisam muitas vezes depreciar o trabalho de outras, para então valorizar o seu próprio. Como muitas criaturas são bastante incautas, simplórias, muitos deles, os dirigentes, os líderes, argumentam tendenciosamente, comentando textos bíblicos numa interpretação muita periférica, quando não calculada, e com isso não trabalham as almas para a Luz, mas criam os sistemas, as chamadas teologias humanas.

Wellerson: Temos convicção de que a Doutrina Espírita é uma doutrina que está pautada no Evangelho de Jesus. Porém, o homem, cheio de vícios e imperfeições, muitas vezes interfere dentro do Movimento Espírita trazendo seus misticismos, seus dogmas e suas crenças. Como nós espíritas devemos agir diante de tais casos? Como os freqüentadores de uma instituição deverão agir quando perceberem que seus dirigentes estão destoando da proposta kardequiana e principalmente do Evangelho de Jesus?
Wagner:
Considerando que a Doutrina Espírita é intocável, encontramos este desafio no Movimento Espírita, que é o labor dos homens gravitando em torno desta grande Revelação. Estamos nos ajustando paulatinamente a ela. Precisamos ter na Casa Espírita a vigilância daqueles que respondem à sua direção no sentido de priorizar o estudo sério das obras que são verdadeiramente espíritas. Porque mesmo dentro da Doutrina, principalmente na atualidade, temos tido muitas obras espiritualistas, que não têm compromissos com os postulados e naquilo que está encerrado nas obras da Codificação. São livros muito lidos, muito divulgados, mas que são espiritualistas, não apresentam aquele comprometimento que vamos entender e sentir no Espiritismo com Allan Kardec. Os dirigentes precisam priorizar o estudo, que inclusive envolva os trabalhadores, optando por obras que não atendam tanto à curiosidade e ao entretenimento, mas aquelas que dão gravidade ao trabalho que está se realizando em favor de um mundo regenerado, e com o tempo isto fará a diferença. É sempre um convite ao estudo para que a prática seja qualitativa. Crença é diferente de vivência. Espiritismo não é culto religioso tradicional, não é palco para vaidades e presunções, é laboratório de transformação moral.


Wellerson: Nós que somos espíritas temos Jesus como nosso modelo e guia e nos baseamos conseqüentemente em seus ensinamentos, contidos nos Evangelhos. Visto que muitos dos evangelhos chamados apócrifos possuem a mesma validade histórica dos evangelhos canônicos, como o Espiritismo interpreta estas passagens da vida do Mestre?
Wagner:
O Espiritismo, que mereceu de Allan Kardec criteriosas pesquisas sobre seus fundamentos, sua imanência, porque de origem divina, explicita a essência imortal dos textos sagrados, revelando dados importantíssimos sobre Jesus e sua tarefa missionária junto a nós. Sobre traduções, encontramos pessoas que se ocupam delas com muito zelo e responsabilidade, desde o Codificador, e que por isso se tornaram grandes mestres, como é o caso, na atualidade, de Honório Abreu, recém desencarnado, de José Damasceno Sobral, de Leão Zállio, igualmente transferidos para o Mundo Invisível. Nessa linha das pesquisas, das análises, sempre utilizando as “chaves” do conhecimento espírita, muitas vezes dominando línguas do passado, históricas, temos outros companheiros e poderíamos dar, como referência, o nosso irmão Haroldo Dutra Dias, também de Minas. Mas a Doutrina Espírita não se ocupa exclusivamente disso, porque ela chegou ao mundo para restaurar a moral evangélica e para demonstrar que os fenômenos deixam de ser mito ou mística adorativa em função do equacionamento científico que se dá a todos os acontecimentos, sempre com conotações filosóficas, de profundo alcance moral. No Espiritismo esta questão não é um problema, porque temos em Jesus o que é essencial, e os fenômenos são tratados por Allan Kardec nas obras que se desdobram neste sentido, ajudando o homem a compreender que são leis naturais. Então, acabou o problema. O Espiritismo efetivamente é a resposta para a Humanidade.

Wellerson: A maioria das religiões cristãs celebram diversas passagens da vida de Jesus. Nós, os espíritas, não enfatizamos nenhuma destas festividades, o que soa para muitos como uma indiferença às realizações do Mestre Jesus. O que você tem a nos dizer sobre esta questão?
Wagner:
É ainda o problema do culto externo. Jesus espera de nós não o culto à sua personalidade, mas a vivência da Vontade de Deus em nossos corações. E é o que nos interessa no Espiritismo. Portanto, estamos nos ocupando do amor que Ele nos ensinou e assim estamos dignificando o esforço do Mestre. Ao invés de idolatrar a Sua figura sem nos melhorarmos pessoalmente, devemos nos dar em caridade e abnegação na lida de uns com os outros.

Wellerson: Qual é a mensagem que você deixa para os internautas?
Wagner:
Temos o conhecimento espírita como chave libertadora para que possamos viver Jesus sem este culto exterior, sem esta mística habitual e improdutiva. Que possamos nos entregar às tarefas sentindo que o Cristo é companheiro em cada uma delas; socorrendo o infeliz, tolerando a pessoa difícil, suplantando o momento da angústia, do medo, porque passamos a nos entregar mais a Deus. Evangelho é ação! Vamos nos entregar à renovação de nós mesmos: a partir de todas as tarefas, de todos os compromissos, do cumprimento dos deveres que nos são habituais. Deus nos tem por filhos e devemos honrá-lo fazendo tudo aquilo que é da Sua vontade. Então é esta a nossa mensagem. Fica o nosso abraço de muita gratidão e muita paz para todos!


Paz e alegria aos nossos corações!


Wellerson Santos


(Foto: Daniel Cunha de Carvalho - Entrevista publicada pelo jornal Evangelho e Ação - Órgão de divulgação da Fraternidade Espírita Irmão Glacus)

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