Entrevista Haroldo Dutra Dias




Jesus e as Parábolas – Método Pedagógico

Haroldo Dutra Dias no IV Congresso Espírita Mineiro discorreu sobre o tema: Jesus e as Parábolas – Método Pedagógico. Iniciou a sua preleção dando-nos os diversos significados da palavra “parábola”, mostrando-nos claramente que eles estão presentes tanto no Antigo como no Novo Testamento. Segundo Haroldo, uma estatística mostra que nos quatro Evangelhos (Mateus, Lucas, Marcos, João), 52% dos textos possuem linguagem figurada. De uma forma didática e extremamente compreensível, o expositor a título de exemplificação utilizava-se da Parábola do Bom Samaritano para fazer suas considerações. “É necessário explicar e desenvolver o que foi lido” – disse ele.

Haroldo Dutra Dias milita no Grupo Espírita Emmanuel que fica localizado no bairro Carlos Prates, em Belo Horizonte – MG. Atualmente, encontra-se trabalhando em pequenina cidade chamada Mantena – MG, onde sequer possui uma Casa Espírita. Mas desde há 22 anos, quando ele encontrava-se com 17 anos de idade integra o Movimento Espírita.

No início, participei do movimento de Mocidades, na Confraternização de Mocidades Espíritas de Belo Horizonte – COMEBH, e estou até hoje” – disse ele.

Haroldo está realizando um belo trabalho junto a Federação Espírita Brasileira. Possui uma coluna na revista “O Reformador” intitulada “Cristianismo Redivivo”. Sobre esta atividade ele diz: “Tem sido uma experiência incrível, na qual tenho me dedicado ao trabalho da escrita, com projetos promissores para o futuro”. Esta tarefa se iniciou quando ele e o senhor Honório foram convidados para elaborar o Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita (EADE), lançado em dois volumes, pela FEB, que aborda as parábolas e ensinos de Jesus, interpretados à luz da Doutrina Espírita. “Parece que ainda vou ficar um tempo empenhado nesta tarefa. Embora sinta falta de uma atividade assistencial, da reunião no grupo espírita, entendo que o momento é outro. Temos que aceitar as determinações do Alto, porque elas representam sempre o melhor para nós”completa Haroldo.

Logo após a sua conferência, na sala de imprensa, Haroldo Dutra Dias respondeu as questões que ora publicamos. Que possamos nos deleitar nestes profundos esclarecimentos acerca do Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita.





Wellerson Santos (Wellerson): No evangelho de Marcos, capítulo 4, versículo 9, encontramos a seguinte assertiva: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” O que poderíamos entender com estas palavras do Cristo?

Haroldo Dutra Dias (Haroldo): Os sábios da época de Jesus, ao interpretarem o Velho Testamento, diziam que a revelação havia sido dada no Monte Sinai como uma voz e que esta voz se dividiu em setenta vozes. O que eles queriam dizer com isto? Por que setenta? Para que toda humanidade ouvisse, afirmavam eles. Isto é muito importante, porque na cultura onde Jesus nasceu o ouvido era considerado o órgão (no sentido metafórico) essencial do entendimento. É pelo ouvido que penetrava a orientação, é pelo ouvido que Deus tinha acesso à intimidade da criatura. Sendo assim, parece que Jesus estava nos advertindo quanto aos riscos de se perder a capacidade de escuta ou de transformá-la num ato mecânico. Nesses casos, a pessoa não se dá conta daquilo que está chegando até a sua intimidade, do ensinamento presente nas circunstâncias, daquilo que as pessoas estão transmitindo. Entendo como se Ele dissesse, nas entrelinhas, “Eu sou a voz de Deus, não apenas quando estou falando, ensinando, pregando, mas principalmente quando estou agindo”. Quando Jesus atua é Deus quem fala, porque Ele é o porta-voz do Criador para os filhos da Terra. Desta forma só vai aproveitar quem ouvir, sem escutar não tem jeito.


Wellerson: Segundo nos informam os espíritos, Jesus nasceu na região de Israel, porque aquele era o único povo monoteísta da época e conseqüentemente estavam mais preparados para receber os seus ensinamentos. Se eles estavam preparados porque Jesus utilizava-se de parábolas para comunicar-se com eles?

Haroldo: Há dois pontos nesta pergunta que precisamos destacar. Emmanuel, no livro A Caminho da Luz, nos diz que por duas razões Jesus se dirigiu aos israelitas. Primeiramente, em razão do Monoteísmo do povo hebreu, embora outros povos cultivassem uma dose de monoteísmo, ele era reservado aos círculos iniciáticos, já que a população como um todo era politeísta. O que não acontecia com o povo hebreu, cujas práticas sociais e coletivas apontavam ou buscavam expressar um monoteísmo inconfundível, claro, direto e objetivo. Por esta razão, Jesus enviou àquele povo inúmeros missionários com a tarefa de preparar a sua vinda. Sem essa base, não seria possível a revelação do Evangelho. Mas há outra razão: diz Emmanuel que, dos povos vindos de Capela, Israel era o mais endividado perante a Lei. É por isto que temos a célebre frase de Jesus: “eu não vim para os sãos, eu vim para os doentes”. Eram os que mais necessitavam porque eram aqueles que nas experiências terrenas encontrariam maior cota de sofrimento. No tocante a questão da parábola, é importante nós entendermos que Jesus não falava por parábolas para ocultar o sentido. Falar em parábola é engrandecer a fala. Naquela época, a utilização das parábolas era uma marca cultural do povo hebreu, tanto é assim, que o Velho Testamento está cheio delas. Na verdade, o modo mais efetivo de você transmitir um ensinamento rico e condensado em poucas palavras é a parábola. A memorização é facilitada, e o ensino não fica encarcerado, engaiolado. É como se você lançasse uma semente e daqui a 50000 anos, voltaremos a interpretar aquela parábola e vamos retirar coisas que hoje não conseguimos retirar. Por isto que as palavras do Cristo têm vida eterna, não apenas pelo conteúdo, mas também pela forma que Ele escolheu para transmitir o ensinamento. Uma forma aberta, ampla, simbólica, que resiste aos séculos. .


Wellerson: Por diversas vezes os apóstolos de Jesus tinham dificuldade de entender os seus ensinamentos. Porque isto se dava, eles não eram espíritos preparados para continuar a divulgação do seu Evangelho? Porque não o entendiam?

Haroldo: Costumo brincar e dizer o seguinte, Jesus é o governador espiritual do orbe. O planeta deve ter por volta dos seus cinco bilhões de anos, e há cinco bilhões de anos atrás Jesus já era um dos membros da comunidade de espíritos eleitos que dirigem o Sistema Solar. O que nós éramos? Então comparar Jesus com os apóstolos é covardia, é maldade. É comparar um fusquinha, com uma Ferrari. É claro que eles não conseguiriam manter aquele padrão divino do Cristo, mas isto não significa que eles não estivessem preparados. Porque se Jesus escolhesse anjos e espíritos puros para serem apóstolos não haveria identificação nossa com o Cristianismo. Era preciso escolher seres humanos. Porque o que Jesus estava querendo mostrar é que não importam as suas fraquezas, as suas fragilidades. Quando você se entrega, é Deus, por intermédio da espiritualidade superior, que age. Paulo fala isso de uma forma muito bonita: “Trazemos esta verdade em vasos de barro para que a glória não seja nossa, mas do alto”. Sempre penso nisso. Sempre que subo para falar penso: está subindo o vaso de barro. Espero que a Espiritualidade Superior tenha piedade para mandar água pura, pois se depender só do vaso o auditório receberá muita lama. E é muito bonito isso, porque quando a criatura vê um Pedro que nega, um Pedro que tem medo, um Pedro que é humano, diz assim: se ele pode, eu também posso. Evita-se o processo de endeusamento. Estamos em marcha para Deus.


Wellerson: Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXI: Haverá falsos cristos e falsos profetas o Espírito de Verdade nos diz que a linguagem simbólica de Jesus tem favorecido interpretações das mais contraditórias, onde as criaturas buscam avaliar segundo as suas concepções e vontade. Jesus como profundo conhecedor da criatura humana não saberia que haveria estas dissensões de pensamentos religiosos? Porque mesmo assim utilizou-se de metáforas para ensinar?

Haroldo: Esta pergunta é interessantíssima. Eu diria que é o preço que se paga pela parábola - a possibilidade dela ser mal interpretada. Mas, neste caso, precisamos pensar uma coisa. A má interpretação já é uma experiência. Tem uma propaganda muito interessante que diz: “não há aprendizado sem manchas”. É claro que devemos procurar a qualificação, o aperfeiçoamento, a capacitação, porém, conscientes de que não há evolução sem erro. E todo este processo de má interpretação ou de distúrbio, até mesmo de mau uso das palavras de Jesus, é um processo de valorização da própria verdade. É mais ou menos assim: nós não vamos valorizar o nascer do sol enquanto não passarmos pela madrugada. Deus poderia ter-nos criado anjos ou poderia ter determinado a encarnação de milhões de espíritos puros na Terra. Em trinta anos nosso orbe seria um mundo ditoso. Todavia, não seria uma luz imposta, um progresso forçado? Costumo dizer que só depois que se bebeu muita água impura, muita água suja, começamos a dar valor à água cristalina. Vivemos numa época que pode ser chamada de era da fantasia. As pessoas estão carentes de uma orientação espiritual. Mas elas estão atrás de esoterismo, de exotismos, ou seja, daquilo que é exótico, bizarro. Essa experiência, no entanto, é importante, porque nesses caminhos exóticos muitos exaurem a ânsia de exotismo, e voltam com sede genuína, preparadas para beber da água pura. Acho que este processo de má interpretação pelo qual passou e passa os ensinamentos de Jesus faz parte do nosso aprendizado. Isto nos amadureceu. Como a criança que para aprender a falar com fluência comete inúmeros erros. Verbalizar o evangelho não e fácil. Nós ainda vamos gaguejar muito até conseguir falar com fluência.


Wellerson: Dentre as parábolas de Jesus, na sua opinião, qual é a que mais resume a doutrina do Cristo?

Haroldo: É uma escolha difícil, mas eu apostaria na parábola do Bom Samaritano. Como salientamos em nosso estudo, ela condensa todo o ensino sobre o amor. Não é uma discussão teórica, não é uma tese, é simplesmente a história de alguém que teve a coragem de amar. Esse alguém era considerado um herege, um marginal da sociedade, mas é ele quem toma a iniciativa de socorrer. O outro era um homem caído, sem identificação, abandonado à própria sorte. Os atores principais desta estória são pessoas marginalizadas, consideradas sem valor naquela sociedade, mas são eles que nos transmitem a lição mais bela, a lição do amor, da solidariedade. O amor de Deus utiliza instrumentos inusitados, ele fala por bocas não oficiais, tidas como desqualificadas pelos homens. Nesse caso, ele falou pela boca de um herege samaritano.


Wellerson: Qual é a mensagem que o senhor deixa para os nossos internautas?

Haroldo: Como frisamos no estudo, o trabalho interpretativo do Evangelho somente se completa com a vivência. É o que Alcíone nos ensina no livro Renúncia: “O Evangelho é um vasto caminho ascensional cujo termo não atingiremos, legitimamente, sem o conhecimento e a aplicação de todos os detalhes”. Acredito que vocês estão no caminho certo, como demonstra a escolha do título do jornal. Não vejo outra mensagem mais atual, mais premente do que aquela deixada pelo Mestre: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.


Que Jesus nos abençoe!


Wellerson Santos


(Foto: Edson Flávio - Entrevista publicada pelo jornal Evangelho e Ação – Órgão de Divulgação da Fraternidade Espírita Irmão Glacus).


11 comentários:

  1. Que Haroldo continue injetando em nosso movimento suas reflexões e estudos que nos capacitam ao entendimento e vivência da lei do amor, vivenciada por Jesus e descrita no Evangelho.

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  2. Parabéns pelo blog. Achei otima a entevista. Gosto de estudar o evangelho e ficar atualizada com o movimento espirita.

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  3. Para saber para onde vomos, as vezes é preciso olhar para traz. Inicialmente tivemos Moisés e uma série de figuras bíblicas até a vinda do Mestre Jesus. Após Jesus, tivemos Alan Kardec, Chico Xavier, Bezerra de Menezes e Divaldo Franco. Agora fomos contemplados com este maravilhoso estudioso e pregador "Dr Aroldo", que tem nos mostrado um novo cristianismo e nos dá muita esperança para nosso evolução espiritual. Que Jesus ilumine o caminho dele e que ele possa caminhar firme rumo a uma evangelização verdadeira.

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  4. Meu primeiro acesso e gostei muito. Vou acessar mais vezes para aprofundar. Seus trabalhos estão ótimos, Deus te abençoe! Continue dando sua contribuição. Abraços fraternos de Maria.

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  5. Obrigado pelo espaço Sr. Wellerson. Entrarei aqui mais vezes. Sempre tem coisas importantes e que enriquecem meu espírito. Jesus te ilumine, amigo!

    Mário Campos
    Santos/SP

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  6. Bom dia, Dr. Haroldo:

    gostaria, primeiramente, de parabenizá-lo pela tradução do Novo Testamento.
    Gostaria de saber se o senhor pretende traduzir o restante, ou seja, Epístolas, Apocalipse, etc.

    Mais, uma vez felicito o colega (chamo de colega porque sou advogado) e acho que com seus conhecimentos seria um crime não levar a cabo a tradução do restante.

    Obrigado pela atenção

    Eros Antonio de Godoy França
    e-mails: erosagf@adv.oabsp.org.br eros.adv@superig.com.br

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  7. Por favor, queremos contactar com o conferencista Sr. Haroldo Dutra Dias e não estamos localizando seu e-mail ou telefone. Se alguém souber, e quiser nos ajudar, fineza entrar em contato com Itaraiacy Araújo (85) 9982-3565 ou e-mail: itaraiacyaraujo@gmail.com Somos trabalhadores da Equipe de Eventos do GRUPO ESPÍRITA PAULO E ESTEVÃO (GEPE), com sede em Fortaleza(CE), e estamos interessados em trazer o ilustre conferencista para um seminário abordando tema do livro: Paulo e Estevão, de sua autoria. Nossa instituição completará em 2011 sessenta anos de atividades e gostaríamos de incluir esse evento dentre outros que possam homenagear a efeméride. Aguardamos resposta com urgência. Obrigado e que o Senhor abençoe nossos propósitos.

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  8. Parabéns pelo blog e pela excelente entrevista com o Haroldo Dutra que nos brindou com o brilho de seu conhecimento sobre a Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus.
    José Leopoldo
    SEBEM-LAGOA SANTA

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  9. Foi extremamente gratificante ler essa entrevista. Obrigada pela aula! Haroldo é um grande estudioso e pesquisador do Cristianismo.

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  10. Tenho uma curiosidade... Os palestrantes espiritas,como o Haroldo D.Dias recebem pelas palestras? Visto que, pelo imenso trabalho dentro da doutrina espirita, não resta tempo para exercer suas funções de trabalho.

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  11. Prezada companheira, bom dia!

    Jesus nos abençoe...

    Todos nós, aqueles que trabalhamos no Movimento Espírita para o divulgar o Evangelho de Jesus fazemos voluntariamente. Seguimos o que o Mestre nos ensinou: Dai de graça o que de graça recebestes.

    Todos nós temos o trabalho profissional que nos possibilita o retorno financeiro de que precisamos.

    Geralmente, nós que somos oradores conciliamos o tempo do trabalho com as atividades doutrinárias, as palestras. Sempre há tempo para que aqueles que desejam trabalhar no bem.

    Muito obrigado pelo seu contato...

    Paz e alegria,

    Wellerson Santos

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